Subjugar a Justiça é matar a democracia
| ||
Editorial
O
avanço resoluto da presidente Cristina Kirchner para sufocar o Poder
Judiciário argentino é mais um sinal de que seu governo segue a
estratégia chavista de enfraquecer as instituições para que o Executivo
tenha a última palavra. É o autoritarismo em marcha acelerada para obter
a hegemonia sobre o país, em detrimento das liberdades de expressão e
de imprensa, dos direitos e garantias individuais.
O
Congresso argentino, de maioria kirchnerista, aprovou seis projetos de
lei do governo que "reformam" a Justiça. Um deles amplia de 13 para 19 o
número de integrantes do Conselho da Magistratura, encarregado de
designar juízes e fiscalizar sua atuação. Os novos juízes serão
escolhidos pelo voto popular, nas mesmas listas de candidatos a
deputados e senadores. As decisões serão contaminadas pelo viés político
e sempre favorecerão o governo, por óbvio.
Outro
projeto estabelece um limite de seis meses para a vigência de liminares
judiciais, também com endereço certo e imediato - vergar o Grupo Clarín
na disputa que trava com o governo sobre a Lei de Meios, outro
instrumento de controle criado pela Casa Rosada, este voltado para a
mídia audiovisual (TVs, rádio etc.). Uma liminar tem impedido o
desmantelamento do Clarín, que seria obrigado a vender uma parte
importante de seus meios de comunicação. É punição por ter se mantido
independente e, como tal, crítico do governo K, quando necessário.
O
governo argentino apenas segue a cartilha chavista na aplicação do "kit
bolivariano", que consiste em usar as instituições democráticas para
desossar a democracia. Foi assim com Hugo Chávez, que também ampliou o
número de juízes para nomeá-los e, assim, controlá-los. Exemplo disso
deu o Tribunal Supremo da Venezuela, quando, após a morte de Chávez,
atropelou a Constituição e passou o poder diretamente ao sucessor
designado, Nicolás Maduro, até a realização de eleições. Na Bolívia e no
Equador, governos bolivarianos seguem o mesmo padrão de controle do
Judiciário.
Felizmente,
o Brasil destoa nesse quadro de involução institucional. O trabalho do
Supremo Tribunal Federal no caso do mensalão foi o melhor exemplo de que
as instituições funcionam segundo os pesos e contrapesos da democracia.
A mais alta Corte julgou, com vigoroso e técnico debate público,
garantido amplo direito de defesa, importantes figuras do campo político
no poder e cercanias. Condenou-se quando necessário, sem que isso
representasse ameaça à estabilidade institucional. Ao contrário.
Esse
é um dos fatores que garantem a segurança jurídica do país para, por
exemplo, investidores nacionais e estrangeiros, alérgicos a aplicar seu
dinheiro onde as regras do jogo mudam de um dia para o outro. A esses
investimentos está associada, na maior parte dos casos, a criação de
riquezas, empregos e o progresso do país. No afã de controlar tudo,
governos bolivarianos acabam tendo que administrar a escassez. |
sábado, 1 de junho de 2013
Globo confundiu rule of law com rule by law no Brasil
O Globo, 1 de junho de 2013 (editorial)
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário