Comissão quer afastar diretor da Abin
Pressão sobre o número 2 da Abin |
Autor(es): Amanda Almeida |
Correio Braziliense - 10/06/2013 |
Dirigente da OAB considera filho de ex-chefe do DOI-Codi "sob suspeição" para o cargo.
Comissão
Estadual da Verdade do Rio cobra a demissão do diretor adjunto da
agência, filho de general que chefiou o DOI-Codi fluminense
O presidente da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro e da
Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil
(OAB), Wadih Damous, defendeu a demissão do diretor adjunto da Agência
Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham. Conforme o
Correio revelou ontem, ele é filho do general da reserva José Antônio
Nogueira Belham, que comandou o DOI-Codi do Rio na época em que o
ex-deputado federal Rubens Paiva foi assassinado, após ser preso e
levado para o departamento.
"Ainda
que ele nada tenha a ver com os episódios, hoje sob investigação, de
torturas e desaparecimentos ocorridos à época da ditadura, a suspeição é
evidente pelas funções que exerce atualmente", disse Damous. Para ele,
Belham tem acesso a informações privilegiadas sobre a época em que o pai
atuava como dirigente do DOI-Codi do Rio, conhecido como um dos órgãos
de repressão mais fortes da ditadura. "Não temos que estigmatizá-lo por
ser filho do general, mas a posição que ele ocupa cria a suspeição."
O
escritor Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado, cujo corpo
continua desaparecido até hoje, questiona a posição de destaque do filho
de Belham na estrutura da agência. "Causa-me desconforto e estranheza
saber que ele é filho do general Belham, mesmo que seja isento. Como,
numa posição de destaque na Abin, ele vai facilitar a revelação de
informações secretas que comprometam o pai?", justifica.
A
Comissão Nacional da Verdade (CNV) tenta localizar o general da reserva
Belham para ser ouvido sobre o que ocorreu em janeiro de 1971. A CNV
diz que o general recebeu, quando chefiava o DOI-Codi do Rio, dois
cadernos de anotação que pertenciam a Rubens Paiva. Os documentos —
encontrados no fim do ano passado pela Polícia Civil do Rio Grande do
Sul, na casa do coronel da reserva Julio Miguel Molinas — derrubaram a
versão do Exército de que o ex-deputado fugiu do DOI-Codi em 22 de
janeiro. Os textos relatam a trajetória de Paiva nas dependências do
departamento, entre 20 e 25 de janeiro, mas não registram a morte do
ex-deputado no período.
A
Abin guardava, em relação ao período entre 1964 e 1990, mais de 132
metros lineares de documentos sobre o regime militar, o que soma cerca
de 1 milhão de páginas. Ainda há 220 mil unidades de microfichas
enviadas pela Abin para digitalização no Rio. Os documentos foram
encaminhados ao Arquivo Nacional, em Brasília.
O
Correio tentou falar com o general da reserva Belham, mas uma mulher
que atendeu o telefone dele disse que ele está viajando. O filho,
Ronaldo Belham, também foi procurado por meio da assessoria da Abin, mas
não atendeu a reportagem.
Cargo de confiança
O senador tucano Alvaro Dias destaca que a responsabilidade pelos atos
dos ocupantes de cargo de confiança no governo federal é da presidente
Dilma Rousseff. "Não cabe à oposição dizer quem o governo deve nomear,
mas vamos aguardar para ver o resultado dos atos (de Ronaldo Belham) e
das investigações da Comissão da Verdade. Depois disso, poderemos ver se
o governo deu um tiro no pé ou acertou", ponderou.
Já
o deputado federal e ex-secretário Nacional de Direitos Humanos
Nilmário Miranda (PT-MG) disse que é "precipitado" pedir a demissão de
Belham. "O fato de ser filho de um ex-general não significa que ele
concorda com o que ocorreu durante a ditadura. Ele não controla acervos
do período e, por isso, não vejo com preocupação a permanência dele no
cargo. Os documentos da Abin foram encaminhados ao Arquivo Nacional e
podem ser consultados", avaliou. Para ele, não se deve tratar a questão
com "revanchismo". "Nossa luta não deve se dar com a rotulação das
pessoas, como se fazia na ditadura."
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário