O Globo, 18 de junho de 2013.
A crise de representatividade dos partidos
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Depois
das manifestações do MPL, Movimento do Passe Livre, na quinta-feira, no
Rio e em São Paulo, analistas políticos passaram a se dedicar a
entender o que acontece - a imprensa, inclusive. O que parecia um
pequeno movimento de estudantes alegadamente contra o aumento de tarifas
de ônibus, acompanhado por grupos de anarquistas, sempre atentos a
oportunidades como esta para atos de vandalismo, ganhou outra dimensão,
principalmente a partir das passeatas de ontem.
Manifestações,
à mesma hora, no Rio, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte remetem a
momentos que fazem parte da História: cassação de Collor, Diretas Já.
Claro, não há sequer de longe comparação com a atual conjuntura
política. O fenômeno é de outra natureza e passa ao largo da estrutura
partidária e de organizações de longa história de militância, como a
União Nacional dos Estudantes (UNE) e sindicatos, anestesiadas pelo
convívio próximo com o poder e suas benesses, nestes últimos 12 anos de
PT e aliados no Planalto. Foram todos surpreendidos pelo crescimento
desta onda de críticas a "tudo isto que aí está", cuja faísca de ignição
foi o custo do transporte urbano, no qual milhões de brasileiros
padecem todos os dias. Elucidativo que alguns ativistas levem cartazes
com a mensagem de que "nenhum partido me representa". Reflete o enorme
distanciamento entre legendas e a sociedade, construído com a ajuda de
uma legislação deficiente, fonte de absurdas distorções.
Série
de reportagens publicadas na semana passada pelo GLOBO sobre a
estrutura partidária traça um diagnóstico deste divórcio crescente entre
partidos e eleitores. É sabido que regras irreais, incentivadoras da
dispersão partidária, não apenas diluem a representatividade como
favorecem a entrada de oportunistas na vida pública, um dos fatores que
contribuem para a degradação da imagem da democracia representativa, uma
grave ameaça às liberdades. As 30 legendas legalmente registradas, um
número excessivo, movimentaram R$ 1 bilhão no ano passado, dos quais R$
350 milhões do Fundo Partidário, grande parte proveniente do
contribuinte. Mesmo que o partido não tenha sequer um parlamentar
eleito, ele é beneficiado pela distribuição de 5% do Fundo Partidário.
Assim, por exemplo, o Partido da Causa Operária (PCO), com 2.560
filiados no país, sem qualquer eleito na Câmara, recebeu do
contribuinte, no ano passado, R$ 629.081. Já o Partido Ecológico
Nacional (PEN), com irrisórios 247 filiados, embolsou R$ 343.303.
Se
considerarmos que as legendas com bancada no Congresso têm garantido
tempo no horário gratuito, por menores que sejam, conclui-se que as
oportunidades de negócios são mais amplas. Entendem-se, então, cartazes
de protesto contra os partidos. Infelizmente, a própria classe política
resiste à criação de uma cláusula de barreira que saneie a estrutura
partidária, e a torne capaz de, afinal, representar de fato o eleitorado
e canalizar as reais reivindicações da população.
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terça-feira, 18 de junho de 2013
Existe democracia sem partidos representativos?
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Ao ver todos esse movimentos revivi momentos de sua aula, em que fiquei angustiada (um pouco como Eveline) diante de toda a situação, da apatia da sociedade, da falta de interesse pela política, etc. Vivemos reclamando de muitas coisas, mas somos nós que elegemos nossos representantes. Pensava no tempo dos meus pais, em como seria uma sociedade unida como nos "caras-pintadas". Não sei se os protestos de hoje chegam perto disso, mas vejo que as pessoas podem sim se unir, e que no fundo sempre deve haver esperança, esperança de um Brasil melhor!
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