Mocidade independente
Autor(es): Nelson Motta |
O Globo - 21/06/2013 |
Discursando para um auditório lotado de
politicos, empresários, lobistas e funcionários, a presidente Dilma
advertiu que "esta mensagem direta das ruas é de repúdio à corrupção e
ao uso indevido do dinheiro público" e foi aplaudida entusiasticamente
pelos presentes, como se ninguém ali tivesse nada a ver com isso. A democracia representativa foi desmoralizada pelos políticos, que a usaram para representar apenas os seus próprios interesses e de seus partidos, e agora os jovens gritam nas ruas "o povo unido/sem sigla e sem partido", e são aplaudidos pela população. Para não ser vencido, o povo unido precisa estar representado no poder. O governo e o Congresso não enfrentam uma urgente e fundamental reforma politica porque os politicos não querem se mostrar como são: incapazes de chegar a qualquer acordo no interesse do país - porque só sabem defender seus próprios interesses e de seus partidos, como uma corporação que se apossou do Estado e o usa em seu beneficio. Por isso os jovens gritam contra os privilégios dos políticos. E eles fingem que não é com eles. Hoje as ruas gritam contra os gastos e roubalheiras da Copa do Mundo, que vai consumir bilhões de reais e o povo vai ver pela televisão, enquanto os velhos políticos e as novas elites da era Lula estarão lado a lado na tribuna dos privilegiados. Contrastando com o Brasil Maravilha que o embriagador marketing oficial mostra na TV, pago com dinheiro público, o Brasil real está nas ruas. As antigas militâncias apaixonadas, hoje amestradas e pagas, babam de inveja diante da TV, velhos partidos tentam pegar carona no movimento e são escorraçados. A maioria absoluta dos manifestantes despreza os atuais partidos - mas exige ser representada, ter voz e direitos respeitados. Novas formas de pressão e de expressão estão nas praças e no ar. As cenas que vemos são uma representação dramática da insatisfação dos jovens com o futuro que os espera, se continuarmos representados pelo que o Brasil tem de pior, de saqueadores de verbas públicas a vândalos predadores. No momento, quem me representa é meu neto de 17 anos. |
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