Novo erro da PM custa a vida de um policial
Correio Braziliense - 07/06/2013 |
Pouco mais de dois meses depois da morte de um inocente em uma ação desastrosa da Polícia Militar, outro erro da corporação culminou em tragédia. Se, em 3 de abril, a vítima foi um estudante de 27 anos, pai de família, (veja Memória), desta vez, o equívoco terminou com um PM assassinado. No fim da noite de quarta-feira, Osmar Catarino Júnior, 35 anos, perdeu a vida ao ser confundido com um bandido. Cabo da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam), ele estava à paisana quando percebeu uma tentativa de assalto a ônibus, na Avenida Hélio Prates, em Taguatinga, e agiu. Segundo o cobrador do coletivo, que preferiu não se identificar, uma equipe da Rotam chegou ao local logo em seguida, não reconheceu o colega e atirou contra Osmar, que estava de costas. A Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) declarou que nenhuma versão será confirmada até que o inquérito sobre o caso seja concluído, em cerca de 30 dias. O cabo havia encerrado o turno de trabalho naquela tarde, substituído justamente pela equipe que o matou. "Ele (Osmar) entrou no ônibus e começou a discutir com o bandido. Foi quando a Rotam chegou e atirou. Levávamos 15 passageiros", relatou o cobrador. O suposto erro na abordagem policial aconteceu por volta das 23h, na altura da QNL 30. Segundo versão apresentada por policiais militares ao Correio, os homens da Rotam chegaram, pararam o carro e, ao confundirem Osmar com o bandido, ordenaram que ele abaixasse a arma. Teriam atirado porque o pedido não foi atendido. "Na realidade, a investigação é que vai dizer qual é a versão correta dos fatos. Hoje, cada um tem uma versão e não podemos trabalhar assim", explicou o coronel da PM Zilfrank Antero. Segundo ele, a ação da guarnição foi legítima, dentro dos padrões normais, e tudo foi um grande "mal entendido". "Ele esqueceu que estava à paisana e os colegas não o reconheceram", ponderou. "Fatalidade" Na manhã de ontem, o comandante-geral da PMDF, Jooziel Freire, garantiu que a morte do cabo Osmar Catarino "foi uma fatalidade". Ele afirmou ainda que o grupamento é treinado e serve, inclusive, de referência para outras corporações. O fato de Osmar ter sido morto por colegas de trabalho, enquanto estava de costas, não evidencia despreparo da equipe, segundo Jooziel. "Especulações vão acontecer. É pouco provável que tenham chegado atirando", disse. Mais tarde, durante o enterro, o comandante da Rotam, tenente-coronel Leonardo Santana, elogiou a atuação de Osmar Catarino no batalhão. O policial era um dos responsáveis pelos carros do grupamento tático. "Era um profissional de respeito, cuidadoso e um grande colega. Um policial exemplar, sempre imbuído de seu dever. Foi isso, inclusive, que culminou na fatalidade. Ele fará falta para a corporação", afirmou. Entretanto, quando questionado a respeito das ambiguidades nas versões sobre a morte do cabo, Santana foi orientado pela corporação a terminar a entrevista, já que as perguntas feitas pela imprensa estavam "fora da pauta". Enterro Parentes, colegas de trabalho e amigos velaram Osmar das 14h às 17h30 de ontem, na Capela 10 do Cemitério Campo da Esperança, no Plano Piloto. Cerca de 150 PMs e pelo menos outras 200 pessoas compareceram ao enterro. Policiais homenagearam Osmar desde o momento em que o caixão saiu da capela e seguiu até o sepultamento. PMs de vários batalhões e setores fizeram um corredor para a passagem do corpo e, em seguida, homens do Batalhão de Trânsito (BPTran) escoltaram a urna em motocicletas. A corporação ainda disparou uma salva de tiros e, ao fim, a Rotam entoou uma oração, que foi seguida pelo choro emocionado dos familiares. "Só quem vive no trabalho de rua sabe pelos limites que passamos. São frações de segundo que, muitas vezes, determinam a vida e a morte. Todo policial quer voltar para casa, mas nem sempre acontece. Agora, temos que tocar o barco, porque a vida continua", lamentou o irmão de Osmar, Osney Catarino, 33 anos, policial do BPTran. Ele trabalhava no momento em que o irmão foi morto. Osney recebeu o chamado do Centro Integrado de Atendimento e Despacho (Ciade) para apoiar um policial militar ferido em Taguatinga, e seguiu para o endereço. Antes mesmo de chegar ao local, avisado por um colega, soube que o PM era seu irmão. "Não é uma coisa simples de ouvir. Ele era uma excelente pessoa, bom demais até para ser de verdade, e era festa aonde quer que chegasse", contou. A mãe de Osmar, em estado de choque, chegou a ir ao cemitério, mas não acompanhou o enterro. A mulher do cabo participou da cerimônia. A vítima [FOTO2] Osmar Catarino Júnior tinha 35 anos. Estava há 13 na equipe da Rondas Ostensivas Tático Móvel (Rotam) da Polícia Militar. Recebeu, durante esse período, 23 menções honrosas, número considerado alto para a maioria dos homens da corporação. Parentes o descreveram como uma pessoa feliz, falante e que gostava de festas. Disseram também que o policial era atencioso com todos e dedicado ao trabalho. Casado há dois anos, Osmar deixa mulher, dois filhos e dois enteados. Memória Inocente assassinado Por volta da meia-noite de 4 de abril último, a estudante Karla Pamplona Gonçalves, 22 anos, dirigia um Fiat Uno na BR-070, sentido Águas Lindas (GO), quando viu, na altura do Condomínio Privê, em Ceilândia, um carro da Polícia Militar. A estudante chegou a reduzir a velocidade do veículo. Porém, ao passar pelos policiais, o Uno foi atingido por um disparo efetuado por um dos militares. Karla parou o veículo. José Chaves Alves Pereira (foto), 27 anos, colega de faculdade que estava no banco do passageiro, foi atingido na cabeça. O disparo acertou a motorista de raspão. Michael de Oliveira Leal, 21, terceiro ocupante do Uno, não se machucou. Os três policiais saíram da viatura e acionaram o resgate, mas, como a ambulância demorou, José Alves foi levado para o hospital no carro da PM. O rapaz morreu no Hospital de Base do Distrito Federal. Segundo as investigações, os PMs teriam confundido o Uno com um veículo roubado. |
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