O golpe do PT
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29 Jun 2013
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Merval Pereira
É
claro que a reforma política é fundamental para avançarmos no processo
democrático, e não é à toa que há anos buscam-se fórmulas para
aperfeiçoar nosso sistema político-partidário, responsável principal
pelas distorções na atividade política.
Quando
os manifestantes nas ruas dizem que não se sentem representados pelos
partidos políticos, e criticam a defasagem entre representante e
representado, estão falando principalmente da reforma política.
Mas
há apenas uma razão para que o tema tenha se tornado o centro dos
debates: uma manobra diversionista do governo para tentar assumir o
comando da situação, transferindo para o Congresso a maior parte da
culpa pela situação que as manifestações criticam.
O
governo prefere apresentar o plebiscito sobre a reforma política como a
solução para todos os males do país e insistir em que as eventuais
novas regras passem já a valer na eleição de 2014, mesmo sabendo que
dificilmente haverá condições de ser realizado a tempo, se não pela
dificuldade de se chegar a um consenso sobre sua montagem, no mínimo por
questões de logística.
A
presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministra Cármen Lúcia,
convocou para terça-feira uma reunião com todos os presidentes dos
Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) para começar a organizar a
logística para um possível plebiscito.
Ao
mesmo tempo, a diretoria de Tecnologia do TSE já começou a estudar qual
a maneira mais rápida de montar uma consulta popular nas urnas
eletrônicas. Só depois dessas reuniões, o TSE terá condições de estimar o
tempo previsto para implementar o plebiscito, e até mesmo sua
viabilidade, já que o sistema binário (de sim ou não) pode não ser
suficiente para a definição de temas tão complexos quanto o sistema
eleitoral e partidário.
Mas
já há movimentos dentro do governo no sentido de que o prazo mínimo de
um ano para mudanças nas regras eleitorais, definido pela Constituição,
seja reduzido se assim o povo decidir no plebiscito. Ora, isso é uma
tentativa de golpe antidemocrático que pode abrir caminho para outras
decisões através de consultas populares, transformando-nos em um
arremedo de república bolivariana. A questão certamente acabará no
Supremo, por inconstitucional.
A
insistência na pressa tem boas razões. O sonho de consumo do PT seria
mudar as regras do jogo com a aprovação das candidaturas em listas
fechadas, em que o eleitor vota apenas na legenda, enquanto a direção
partidária indica os candidatos eleitos.
Como
o partido com maior apelo de legenda, o PT teoricamente seria o de
maior votação. Mas, se as mudanças não acontecerem dentro do cronograma
estabelecido pelo Palácio do Planalto, será fácil culpar o Congresso
pela inviabilização da reforma política, ou o TSE.
Já
no 3º Congresso do PT, em 2007, o documento final - que Reinaldo
Azevedo, da "Veja", desencavou - defende exatamente os pontos anunciados
pela presidente Dilma em seu discurso diante dos governadores e
prefeitos.
Ela
própria admitiu que gostaria que do plebiscito saíssem o voto em lista e
o financiamento público de campanha. Até mesmo a Constituinte
exclusiva, que acabou sendo abortada, está entre as reivindicações do PT
desde 2007. "Para que isso seja possível, a reforma política deve
assumir um estatuto de movimento e luta social, ganhando as ruas com um
sentido de conquista e ampliação de direitos políticos e democráticos",
diz o documento do PT.
Para
os petistas, "a reforma política não pode ser um debate restrito ao
Congresso Nacional, que já demonstrou ser incapaz de aprovar medidas que
prejudiquem os interesses estabelecidos dos seus integrantes". A ideia
de levar a reforma para uma Constituinte exclusiva tem como objetivo
impedir que "setores conservadores" do Congresso introduzam medidas como
o voto distrital e o voto facultativo, "de sentido claramente
conservador", segundo o PT.
De
acordo com o mesmo documento, "a implantação, no Brasil, do
financiamento público exclusivo de campanhas, combinado com o voto em
listas preordenadas, permitirá contemplar a representação de gênero,
raça e etnia".
Portanto,
a presidente Dilma está fazendo nada menos que o jogo do seu partido
político, com o agravante de ser candidata à Presidência da República na
eleição cujas regras pretende alterar.
Os pontos-chave
1
O
governo apresenta o plebiscito sobre a reforma política como a solução,
mesmo sabendo que dificilmente haverá condições de ser realizado a
tempo
2
O sonho do PT seria mudar as regras do jogo com a aprovação das candidaturas em listas fechadas
3
Já no 3º Congresso do PT, em 2007, o documento final defende exatamente os pontos anunciados por Dilma
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sábado, 29 de junho de 2013
Tornar-se-á o Brasil uma republiqueta bolivariana?
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