Os documentos secretos do BC
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10 Jun 2013
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Alex Ribeiro
O
presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, classificou como
secretos os documentos e informações que são apresentados no segundo dia
das reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e que servem como
subsídio para as decisões sobre juros.
Isso
significa que eles só vão se tornar públicos dentro de 15 anos. É o
triplo do prazo adotado pelo banco central americano, o Federal Reserve
(Fed), que libera documentos e informações semelhantes depois de cinco
anos.
Na
prática, o trabalho do presidente do Banco Central e demais diretores
da instituição será examinado, à luz dessa documentação, basicamente por
historiadores. As decisões do presidente do Fed e dos demais membros do
seu comitê de política monetária são julgadas pela opinião pública
enquanto muitas dessas autoridades ainda permanecem no cargo.
BC leva 15 anos para divulgar papéis que Fed libera em 5 anos
Neste
ano, está sendo divulgada a documentação que subsidiou as decisões de
política monetária tomadas em 2008 pelo presidente do Fed, Ben Bernanke,
sob o calor da crise financeira. O atual presidente do BC, Alexandre
Tombini, era um membro do Copom naquela época, quando foi forte a
cobrança para uma baixa de juros mais rápida.
Em
2011, foi aprovada a Lei de Acesso à Informação, que estabelece o
direito de acesso pelo cidadão a informações e documentos que estão na
posse do governo. A regra geral é ampla publicidade, mas a lei admite
exceções. O material pode ser retido pelo governo, se, entre outras
coisas, põe em risco a defesa e a soberania nacionais, a condução de
negociações ou as relações internacionais ou a estabilidade financeira,
econômica ou monetária. Nesses casos, cada órgão público deve
classificar as informações. As ultrassecretas ficam guardadas por até 25
anos; as secretas, por até 15 anos; e as reservadas, por até 5 anos.
Tombini
classificou as informações apresentadas no primeiro dia da reunião do
Copom como reservadas, pelo prazo de quatro anos. Há muita coisa
publicada na página do BC na internet, mas seu valor para entender o
significado das decisões do Copom é limitado.
Já
as informações e documentos apresentados no segundo dia de reunião do
Copom, que de fato subsidiam as decisões, foram classificados como
secretos. Entre eles, estão as apresentações feitas pelo Departamento de
Pesquisa Econômica (Depep) com projeções sobre os efeitos de decisões
sobre juros diante de diferentes cenários.
Documentos
como esse poderiam ajudar a esclarecer, por exemplo, o que foi,
exatamente, a tal da "contribuição do setor externo para a consolidação
de um cenário benigno para a inflação" que permitiu um corte de 0,5
ponto percentual nos juros em junho de 2007. Essa decisão, que teve a
oposição de dois diretores do BC, é uma das mais controversas da
história recente do Copom. Para alguns, foi um movimento equivocado, que
levou o BC a voltar a subir os juros no começo de 2008. Quais dados
embasaram a tese?
No
despacho que classificou documentos como secretos, Tombini sustenta que
eles "veiculam informações de caráter extremamente sensível, cuja
divulgação descontextualizada implicaria elevado risco de influenciar
negativamente a coordenação das expectativa dos agentes econômicos". E
segue: "Eventual comunicação de tais apresentações ao público envolveria
ingente [grande] grau de complexidade, pois, até o entendimento
completo do material subjacente, haveria substancial risco de geração de
ruídos cognitivos no âmbito do sistema econômico."
Uma
questão que se coloca é se, de fato, uma informação avaliada pelo Copom
cinco anos atrás vai ter alguma relevância hoje sobre as expectativas
dos agentes econômicos. O Fed acha que não, e divulga logo. Os dados
utilizados pelo Copom são muito perecíveis - tanto que a quarentena de
seus ex-membros, que migram para o mercado financeiro, é de apenas
quatro meses.
Se
a intenção do BC for deixar essas informações apenas para a história, é
bom registrar que uma parte já está perdida. Até pouco depois de
janeiro de 1999, as reuniões do Copom eram gravadas, segundo informou
numa entrevista o ex-presidente do BC Francisco Lopes. O Valor pediu as
fitas gravadas, com base na Lei de Acesso à Informação. "O Banco Central
não possui a informação solicitada, haja vista que esta autarquia não
realizou gravação das reuniões do Copom", disse a resposta. Uma fonte
diretamente envolvida nas gravações informou, de forma reservada, que o
BC realmente gravou as reuniões do Copom, mas as fitas foram
reutilizadas.
"O
detalhamento dos votos dos membros do Copom, até a 166ª reunião, de 17
de abril de 2012, se resume aos registros realizados nas atas publicadas
a cada reunião, sem a identificação nominal desses votos", disse o BC,
na resposta ao mesmo pedido. Ou seja, não se sabe mais quem votou para
subir ou para baixar os juros.
Mundo
afora, há uma discussão sobre a conveniência de gravar reuniões de
comitês de política monetária. O Fed grava e divulga, mas o Banco
Central Europeu (BCE), não. Um argumento para não gravar é que, com o
registro, as discussões ficam mais burocráticas e formais.
A
Lei de Acesso à Informação ainda está na primeira infância, e o Banco
Central vem procurando encontrar o equilíbrio exato entre transparência e
a preservação da estabilidade.
O
Valor pediu, com base na lei, dados que deram origem a um gráfico,
apresentado no relatório de inflação de março, sobre o resultado fiscal
estrutural do governo. O BC não havia publicado a escala do eixo
vertical, justamente a informação que permitiria checar se a gastança do
governo estava alimentando a inflação. O material foi classificado como
reservado pelo BC.
Num
outro pedido, o Valor solicitou quanto a autoridade monetária pagou a
cada um dos administradores externos das reservas internacionais, que
incluem gigantes como BlackRock, Pimco e Deutsche. A informação,
respondeu o BC, está protegida pela mesma lei do sigilo bancário - e,
portanto, nunca virá a publico.
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segunda-feira, 10 de junho de 2013
O BC dos EUA e o do Brasil: accountability postergada
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