Folha de S. Paulo, 8 de junho de 2013.
Informações só virão a público
após 2014
Sigilo
pode durar inclusive até 2018, caso a presidente Dilma Rousseff consiga obter
um segundo mandato
A ordem
teria partido diretamente do chefe de gabinete, Giles Azevedo, para o alto
escalão do Itamaraty
PATRÍCIA
CAMPOS MELLO DE SÃO PAULO
Está
causando mal-estar entre integrantes do governo a decisão do gabinete da Presidência
de determinar que todas as comunicações relativas a viagens presidenciais sejam
classificadas como "reservadas".
Isso
significa que elas terão de ser mantidas sob sigilo até o final do mandato da
presidente Dilma Rousseff, em 2014, ou, em caso de reeleição, até 2018.
Na semana
passada, os postos do Itamaraty no exterior receberam uma circular telegráfica
pedindo para manter sob sigilo até as mensagens administrativas --isso inclui
todas as comunicações relacionadas às viagens, desde número e preço de quartos
de hotéis até pautas de reuniões. A determinação foi noticiada pelo portal iG
na semana passada.
A ordem
teria partido diretamente do chefe de gabinete da presidente Dilma Rousseff,
Giles Azevedo, para o alto escalão do Itamaraty, segundo apurou a Folha.
Os gastos
da Presidência em viagens têm despertado críticas. Reportagem da Folha de 21 de
março deste ano revelou que o governo brasileiro desembolsou € 125.990 (R$ 324
mil) com hospedagem e salas de apoio e reunião para a comitiva de Dilma Rousseff
em Roma durante a missa inaugural do papa Francisco. O gasto teria sido menor
se Dilma tivesse optado pela residência oficial.
A
Secretaria de Comunicação Social da Presidência nega que a determinação vá
tornar sigilosos os gastos da presidente ou do vice Michel Temer. "O valor
total dos gastos com hospedagem das viagens internacionais já foi e continua a
ser divulgado, pois esta informação não afeta a segurança."
Mas,
segundo o Itamaraty, gastos em viagens vão se tornar, sim, sigilosos.
"(Serão reservados) todos os documentos relacionados a visitas da
Presidenta e do Vice-Presidente, pois não há como transformar em reservado em
um documento apenas o nome do hotel, deixando ostensivas informações sobre
aluguel de equipamentos", disse a assessoria do Itamaraty.
Segundo o
ministério, a reclassificação dos documentos está sendo realizada como parte da
adaptação à Lei de Acesso à Informação. "Com a maior facilidade para o
acesso aos expedientes internos do ministério, analisou-se que seria necessário
reclassificar documentos que possam pôr em risco a segurança da presidente e do
vice-presidente."
"Não
há razão para os gastos da presidente em viagens serem sigilosos, eles não são
risco à segurança", diz uma pessoa ligada ao processo.
A medida
inclui documentos relativos a viagens desde 2011. Segundo o Itamaraty, há
retroatividade porque as providências nas viagens presidenciais são parecidas,
o que poderia afetar a segurança.
"Há o risco de usar a questão da segurança de
forma muito generalizada para tornar documentos sigilosos", diz Camila
Asano, coordenadora de Política Externa na ONG Conectas. "A Lei de Acesso
à Informação supõe que o ônus de explicar a necessidade de sigilo fica com o
órgão público."
A
Presidência diz que a determinação sobre as viagens foi uma exigência da lei e
não uma decisão do gabinete.
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