quarta-feira, 26 de junho de 2013

Transição brasileira: todos com todos (Delfim é o guru econômico de Lula e, recentemente, foi consultado por Dilma)

Delfim justifica AI-5 e diz não se arrepender de assinatura

Valor Econômico - 26/06/2013
 

Ministro da Fazenda durante os anos mais violentos do regime militar brasileiro, entre 1967 e 1974, o economista Antônio Delfim Netto afirmou ontem não ter qualquer arrependimento de ter sido signatário do Ato Institucional nº 5, que acabou com liberdades políticas, extinguiu direitos civis e deu poder de exceção a governantes durante a ditadura militar.
"Não me arrependo. Se as condições fossem as mesmas e o futuro não fosse opaco, eu repetiria", afirmou durante sessão da Comissão da Verdade da Câmara municipal de São Paulo, para a qual foi convidado a prestar depoimento. Para o ex-ministro, "o AI-5 foi necessário, porque você estava num estado de desarrumação geral".
Apesar da posição que ocupava no governo, Delfim sustentou durante toda a sessão a tese de que não havia qualquer vínculo ou interlocução entre ministérios civis e militares. Logo, que desconhecia que ocorressem torturas, sequestros e mortes de opositores do regime. "Nunca ouvi dentro do governo nada sobre tortura. Você ouvia dizer por aí. Quando perguntei ao presidente [Emílio Garrastazu Médici], ele negou, disse que só ocorriam mortes em combates".
Mesmo tendo participado do Conselho de Segurança Nacional, Delfim também disse desconhecer como funcionava o sistema de arrecadação de fundos junto a banqueiros e empresários para dar suporte à máquina da repressão. "Duvido que tenha existido, tenho sérias dúvidas. Eram pessoas muito sérias", afirmou, quando lhe foram apresentados nomes de empresários que poderiam ter financiado a Operação Bandeirante (Oban), centro de coordenação de ações de combate às organizações da esquerda armada. Procurando mostrar distanciamento dos comandantes do aparelho repressivo, o ex-ministro os definiu como "um bando de maluquetes".
A postura do ex-ministro, que não prestou qualquer informação nova sobre as ações do governo militar, irritou os vereadores presentes. À vereadora Juliana Cardoso (PT), que disse ser inacreditável que Delfim ignorasse o que se passava nos porões do regime, o ex-ministro respondeu. "A sua posição é a seguinte: eu sou a portadora da verdade. Parabéns".
O ministro fez ainda a defesa da manutenção da Lei da Anistia, que inviabiliza que agentes do Estado que cometeram crimes de lesa-humanidade possam ser incriminados. A um repórter que perguntou quando ele descobriu que o governo do qual fez parte torturava opositores, Delfim novamente recorreu à ironia. "Agora, que vocês estão me esclarecendo".

Nenhum comentário:

Postar um comentário