O fator Lula
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16 Jul 2013
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Merval Pereira
Na
medida em que a fragilidade política da presidente Dilma vai ficando
evidente, a expectativa de poder do PT e de partidos aliados
transfere-se preferencialmente para o ex-presidente Lula, que está
calado em público, mas agindo nos bastidores, para, dizem as boas almas,
fortalecer Dilma. Os céticos veem na ação do ex-presidente manobra para
garanti-lo como a alternativa de poder quando chegar o momento certo.
Até
o fim do ano nada acontecerá, mesmo porque o marqueteiro João Santana
já garantiu que até lá a "soberana" terá recuperado seu prestígio. Se
isso não acontecer, e o PT entrar em 2014 com uma candidata sem
popularidade, um governo com a economia em baixa e inflação em alta,
veremos fortemente o apelo à volta de Lula às campanhas eleitorais, não
só como o avalista, mas candidato a salvador do PT e da pátria.
Nos
próximos dias teremos uma demonstração de como está seu ânimo. Há
informações de que pressionam o ex-presidente para que antecipe um
check-up, marcado para o fim de agosto, para mostrar que sua saúde está
boa, ao contrário do que dizem os boatos. Se Lula se recusar a esse tipo
de exposição, os que defendem sua candidatura terão menos esperanças de
tê-lo na cédula em 2014.
Para
fortalecer a tese dos que dizem que Lula pretende mesmo tentar voltar
ao Palácio do Planalto, há a evidente retração da atividade política do
governador de Pernambuco, Eduardo Campos, a quem se atribui a decisão de
não se candidatar se o ex-presidente for o candidato do PT. Campos não
só apoiaria Lula como poderia ser seu vice, o PSB substituindo o PMDB.
Há ainda quem considere que Lula, não desejando concorrer, tentaria
convencer o PT a apoiar a candidatura de Campos à Presidência no caso de
Dilma estar definitivamente enfraquecida. São especulações que rondam o
mundo político enquanto cada um tenta adivinhar para onde o vento
estará soprando em 2014.
O
próprio Lula deve estar fazendo suas avaliações dos riscos contidos
nessa empreitada para a qual está sendo pressionado pelas suas bases
partidárias. O risco de perder sempre existe, especialmente diante de um
governo frágil que teve Lula como avalista. Como explicar que não deu
certo? Mais ainda, como fazer uma campanha eleitoral com um governo
enfraquecido politicamente, desmoralizado pela deposição simbólica da
presidente, que não tem condições de tentar a reeleição? Além do mais,
como ter certeza de que vencerá uma eleição se o ambiente político
continuar conturbado pela ânsia de mudanças da sociedade? Lula continua
sendo visto como o salvador da pátria ou estaria entre os políticos
rejeitados pela classe média urbana que está nas ruas pedindo melhores
serviços públicos?
O
apoio do Nordeste continuará suficiente para elegê-lo, ou o ambiente de
contestação alcançará as classes populares? A inflação continuará
corroendo o poder aquisitivo dos brasileiros mais pobres, fazendo com
que o prestígio do PT decaia? Como revelou pesquisa feita em São Paulo, o
partido governista perdeu grande parte do apoio que tinha mesmo no
chamado cinturão vermelho, onde predominam seus eleitores.
A
recente tentativa de demonstração de força das centrais sindicais
mostra que elas, embora capazes até mesmo de parar grandes cidades, já
não arrebatam as multidões. A lei sancionada por Lula em 2008
reconhecendo as centrais nos fez retornar aos tempos do Estado Novo
getulista, ressuscitando o papel do Estado como indutor da organização
sindical. O Lula líder sindicalista defendia o fim da Era Vargas,
classificava a CLT de "AI-5 dos trabalhadores" e dizia que, se Vargas
foi o "pai dos pobres", era também "a mãe dos ricos". Hoje, a CLT e a
unicidade sindical (só um sindicato por categoria em cada município)
persistem, e o sindicato continua atrelado ao Estado. A "legalização"
das centrais ficou conhecida como "pelegalização".
A
cooptação pela fisiologia das entidades de classe, como os sindicatos, a
UNE, ONGs de diversas correntes, foi uma política eficiente para
neutralizar manifestações populares oposicionistas, mas retirou dessas
entidades a credibilidade da representação. A sociedade brasileira que
está nas ruas nos últimos meses é a mesma que deu a Lula um recorde de
apoio popular, ou os parâmetros mudaram?A mudez de Lula é eloquente, mas
os políticos o têm como a salvação de um projeto de poder.
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terça-feira, 16 de julho de 2013
Retrocesso autoritário
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