O exército de Francisco
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08 Jul 2013
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Brasil
Repleta
de traços sinuosos, a rodovia federal BR-101 serpenteia entre o mar e a
Mata Atlântica, no município de Angra dos Reis, litoral sul do Estado
do Rio. A 40 quilômetros de distância, uma placa anuncia que as três
usinas nucleares estão situadas logo depois da próxima curva. Nas
últimas semanas, os motoristas que passaram por esse ponto pisaram
surpresos no freio, ao avistar um caminhão do Exército, parado no meio
da rotatória de acesso às usinas. Espalhados pelo local, soldados
armados com fuzis vigiam a estrada. Curiosos baixam o vidro do carro
para tentar entender o que se passa.
Não
se trata de mero treinamento. Um batalhão com 70 homens da 9ª Brigada
de Infantaria Motorizada, com cinco caminhões e duas caminhonetes,
montou três bloqueios para proteger as instalações nucleares de um
eventual ataque terrorista. A vigilância incomum faz parte de um grande e
minucioso esquema, montado pelas Forças Armadas para a visita do papa
Francisco ao Rio de Janeiro. Em sua primeira viagem internacional desde
que assumiu o mais alto posto da Igreja Católica, em março deste ano, o
papa chega ao Rio no próximo dia 22 com uma agenda repleta de eventos.
Ao longo de seis dias, serão pelo menos 13 compromissos públicos, entre
eles uma missa campal para 2 milhões de pessoas e a visita a uma favela
pacificada. Tudo sob o atento olhar das forças de segurança.
Durante
três semanas, ÉPOCA obteve documentos e fez várias entrevistas para
traçar o mapa da inédita operação de guerra, planejada nos últimos meses
por Exército, Marinha e Aeronáutica (leia o quadro na página seguinte).
As Forças Armadas estão encarregadas de missões extraordinárias de
defesa, como se o Brasil estivesse prestes a ser atacado. Não é um
simples reforço ao esquema de segurança pública e combate a criminosos
corriqueiros, tarefas a cargo das polícias estaduais e federal durante a
visita do papa. Além das usinas de Angra, o Exército ocupa desde junho
outras 13 instalações, entre subestações de energia, antenas de
radiodifusão, estações de tratamento de água e até a refinaria da
Petrobras em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Boa parte da tropa
estará aquartelada, para poder sair às ruas numa eventual emergência.
Caças F-5 da Força Aérea podem decolar a qualquer momento para
interceptar aeronaves suspeitas sem autorização de voo. A Marinha fará
patrulhamento no litoral. Fuzileiros navais estarão preparados para
avançar sobre favelas ainda sob o domínio do narcotráfico, caso seja
necessário.
"A
principal preocupação é com um ato de terrorismo", disse a ÉPOCA o
general de divisão do Exército José Alberto da Costa Abreu, a mais alta
patente no comando da operação. "Não há indícios de que alguma coisa
esteja planejada, mas claro que existe uma possibilidade." Ele considera
as ações inéditas e feitas numa escala sem precedentes. Ao todo, serão
mobilizados 8.600 homens do Exército, da Marinha e da Aeronáutica.
Não
será a primeira visita de um papa ao Rio de Janeiro. O carismático João
Paulo II esteve na cidade em 1980 e 1997. O que torna a operação de
agora tão diferente? Para o Exército, a diferença está na Jornada
Mundial da Juventude, evento cuja principal atração é a peregrinação
papal. O encontro atrairá um total estimado em 2 milhões de jovens para
missas e catequeses, entre os dias 23 e 28 de julho. Esse contingente
movimentará mais de 15 mil ônibus, em uma cidade cujo trânsito
congestionado mal suporta os 9 mil que já circulam diariamente. Na
avaliação do general Abreu, uma multidão desse porte também poderá virar
alvo de terroristas, como ocorreu na maratona de Boston, nos Estados
Unidos, em abril passado.
No
total, 1.200 militares do Exército serão responsáveis por guardar as 14
instalações consideradas estratégicas, incluindo as usinas de Angra.
São soldados e oficiais com experiências em ações internacionais, como a
missão de paz no Haiti. Também estão preparados para a realidade
brasileira. Muitos participaram, em 2010, da ocupação das favelas do
Complexo do Alemão, na Zona Norte, então dominadas pelos mais violentos
traficantes de drogas do Rio. Outros 4.600 homens cuidarão
Usado
para interceptar aeronaves suspeitas que estejam em alta velocidade da
segurança da área onde haverá a missa campal com o papa, em Guaratiba,
na Zona Oeste do Rio. Em torno de 2 milhões de jovens se reunirão e
acamparão num espaço equivalente a 140 campos de futebol. O Complexo da
Maré, um conjunto de 15 favelas dominado por traficantes de drogas e por
milicianos, será vigiado por 800 fuzileiros navais. A Polícia Militar
ocupará quatro outras favelas com 45 mil moradores, situadas no bairro
de Santa Cruz, próximo ao local da missa papal em Guaratiba. Q papa
Francisco visitará a favela da Varginha, no Complexo de Manguinhos, na
Zona Norte, comunidade hoje ocupada pela polícia.
O
desafio do governo é garantir a segurança do papa sem militarizar o Rio
de Janeiro. Para isso, não haverá tanques nas ruas. Os soldados estarão
aquartelados, de prontidão, para agir diante de alguma situação que
fuja ao controle das polícias. Segundo o Exército, mais de 1.000 homens
que ficam em Niterói, na região metropolitana do Rio, poderão intervir
na orla da Praia de Copacabana, onde o papa assistirá à encenação da
Via-Sacra. Até o espaço aéreo nos locais onde o papa estiver cumprindo
agenda ou mesmo descansando ganhará status de "área vermelha" e ficará
fechado a voos. Caso uma aeronave ultrapasse o limite permitido sem
autorização da Aeronáutica, a Força Aérea acionará caças F-5,
turboélices Super Tucanos ou helicópteros H-60 para interceptar o avião
suspeito. A Marinha patrulhará as águas das baías de Guanabara e
Sepetiba, esta última próxima ao local da missa campal. O lfi Distrito
Naval deverá operar com 20 embarcações, incluindo dois navios patrulhas
oceânicos, com autonomia para ficar mais de 30 dias no mar e estrutura
para receber e abastecer aeronaves.
O
Ministério da Defesa informa que gastará R$ 27,5 milhões com as ações
das Forças Armadas. O governo federal também desembolsará R$ 30 milhões
com a segurança pública. Somando as despesas do governo do Estado e da
prefeitura do Rio, serão gastos R$ 110 milhões na operação de guerra.
Será mais um teste para uma cidade cada vez mais acostumada a receber
turistas e visitantes ilustres do exterior.
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segunda-feira, 8 de julho de 2013
Brincando de guerra com o dinheiro do contribuinte
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