Negri e Chávez, tudo a ver
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06 Jul 2013
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Merval Pereira
Uma
das mais importantes contribuições à integridade da democracia
brasileira foi dada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) na nota em
que mostrou a impossibilidade de realizar o plebiscito sobre reforma
política em tempo de obedecer aos prazos legais estabelecidos pela
Constituição para valer na eleição de 2014.
Ao
colocar como barreira a Constituição, e salientar que não é possível
perguntar ao povo questões que ele não pode resolver, como as que exigem
emendas constitucionais no Congresso, o TSE deu balizamento para
eventuais tentativas de alterar a Constituição através de plebiscitos,
sonho de consumo permanente de um grupo influente do petismo.
Nesse
contexto, o desespero da presidente Dilma para levar adiante a proposta
de plebiscito sobre a reforma política pode gerar uma crise de graves
consequências, com o Palácio do Planalto, acobertado pelo PT, tentando
jogar a população contra o Congresso, como se a solução das
reivindicações das ruas dependesse do plebiscito. O grau de
periculosidade aumenta quando o PT decide não só levar para as ruas
centrais sindicais e organizações populares ligadas a ele, como insistir
na convocação de uma Constituinte. No dia 25 do mês passado, escrevi a
coluna "Democracia direta", sobre o perigo de utilizar consultas
populares para ultrapassar o Congresso, e disse que a tendência dominava
países da América Latina ditos "bolivarianos", sob a liderança da
Venezuela chavista, que se inspirara no livro "Poder Constituinte -
ensaio sobre as alternativas da modernidade", do filósofo italiano
Antonio Negri.
Pois
bem, o professor de Direito Constitucional Adriano Pilatti, tradutor do
livro para o português, postou no Facebook nota contra o que escrevi.
Juntamente com Toni Negri e Giuseppe Cocco, publicou um artigo no jornal
"Valor" supostamente para rebater "as sandices" que escrevi, segundo
Pilatti. Nesse artigo, afirmam que nunca falaram especialmente sobre a
Venezuela, mas sobre o surgimento de novos governos na América do Sul,
e, analisando as manifestações dos últimos dias no país, escrevem que "a
teoria do poder constituinte e sua realidade (aquela que está
abertamente nas ruas do Brasil inteiro) é uma teoria da democracia
radical. Não é contra a representação, mas contra a separação dessa de
sua fonte: a soberania popular".
A
íntima relação de Toni Negri com Hugo Chávez, o falecido protoditador
venezuelano, no entanto, está registrada em um encontro que tiveram em
Cumaná, Estado de Sucre, num domingo 5 de fevereiro de 2006, e gravado
para o programa Alô Presidente número 246. Quem quiser ver a íntegra
pode ir ao Google e, a partir da página 59, encontrará diálogos do que
Negri e Chávez entendem por "democracia". Chávez conversa com Toni Negri
e diz que o conheceu primeiro através de livros como "O Poder
Constituinte", que o fez compreender "o que é o poder constituinte
original". Negri agradece e diz que teve "muita sorte" de o seu livro
cair "em excelentes mãos. Mãos que levaram a cabo não somente um
processo democrático, mas também que puderam levar a cabo com esse livro
uma revolução, que é a essência de uma verdadeira Constituição, esse
amor que nasce e se transmite através da prática da Constituição".
Negri
diz que " é interessantíssimo ver como se desenvolve este processo,
esse é o essencial, o que você chama de dar o poder ao povo. Quer dizer,
transformar este processo revolucionário em uma verdade, em um processo
verdadeiro de dar poder ao povo, o que chamo de uma ação verídica até o
povo". Outro aspecto importante, diz Negri, é que um grupo de
companheiros, tanto na Itália quanto em toda a Europa e América Latina,
está vendo "com muito interesse a experiência venezuelana, a proposta
bolivariana, e como se está estendendo pela América Latina". Para Negri,
"é importante ver que o inimigo somente pode ser vencido através da
luta de classes, da luta de todos nós. A luta de classes nos continentes
é minha esperança, poder continuar aprofundando este debate, esta
proposta que se está formulando hoje que você chama de socialismo do
século XXI e eu poderia também chamar de comunismo".
Chávez
agradece a Negri e torna a dizer que a partir do livro "O Poder
Constituinte", que o fez entender o poder constituinte originário, está
se desencadeando um processo na Venezuela e na Bolívia. "Estamos aqui
levando adiante um processo democrático, revolucionário, pacífico. Mas,
como já disse antes, é uma revolução "alerta e armada", para destruir a
traição à Pátria".
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sábado, 6 de julho de 2013
Bolivarianismo da Presidente
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