sábado, 13 de julho de 2013

Pode haver qualidade numa democracia com partidos tão corruptos?

Os partidos e a corrupção

13 de julho de 2013 | 2h 09

O Estado de S.Paulo
 
Quatro brasileiros em cada grupo de cinco consideram os partidos políticos "corruptos ou muito corruptos", segundo pesquisa do Ibope feita para a organização não governamental Transparência Internacional. O levantamento traça um panorama pessimista em relação à honestidade da representação partidária nas democracias no mundo inteiro. Concluído em março, três meses antes das manifestações em que brasileiros reclamaram de problemas das instituições em geral, inclusive a malversação de recursos públicos, foram entrevistadas 114 mil pessoas em 107 países. No Brasil, foram feitas 2.002 entrevistas. A média dos que acham que os partidos são corruptos é superior à mundial: 65% no mundo e 81% aqui. E a percepção de corrupção nos partidos políticos brasileiros piorou em três anos: na pesquisa de 2010, este índice foi de 74%. No Brasil 83% e nos outros países 82% dos entrevistados sentiram que "a corrupção aumentou ou ficou igual nos últimos dois anos".
"O desprestígio (dos partidos políticos) é grande e o resultado é triste, porque os partidos são os pilares da democracia", comentou Alejandro Salas, um dos autores do informe. Os partidos, que deveriam organizar e mobilizar setores da sociedade para legislar e exercer o poder no Executivo, ocupam o topo do pódio da desmoralização. Mas outras instituições da democracia representativa também não são bem avaliadas.
A imagem do Poder Legislativo, que, na democracia representativa clássica, elabora as normas de convívio social, é um pouco, mas muito pouco, melhor do que a dos partidos, tanto no Brasil como no resto do mundo: o entendimento de que o Congresso não é um primor de honestidade é compartilhado por 72% dos brasileiros, sendo a média mundial de 57%.
A maioria também não se deixa iludir pelos anúncios de medidas, o mais das vezes oportunistas e demagógicas, por gestores públicos para pôr fim à roubalheira, cujos métodos nefastos, ao que tudo indica, têm sido "aprimorados" com o correr do tempo. Entre os brasileiros ouvidos pelos pesquisadores, 56% não creem na eficiência de providências contra a corrupção. A média mundial foi de 54%. No Brasil, a proporção de cidadãos dispostos a denunciar a corrupção era, pelo menos até março, um dos raros casos em que aparecia em nível mais baixo do que a do resto do mundo: 68% aqui e 80% fora. A pesquisa constatou que quase a metade dos entrevistados (44%) não denuncia porque tem medo de fazê-lo e uma porcentagem um pouco menor (42%) acha que as denúncias não fazem efeito.
Na opinião de Salas, contudo, é provável que as manifestações de junho contra muitas mazelas do Estado brasileiro - ou seja, a inflação, a péssima gestão pública (particularmente em setores sociais prioritários, tais como saúde, educação e segurança pública) e a própria corrupção - demonstraram que a principal vítima desse estado de coisas - a população em geral - já começou a perceber a evidente conexão direta entre a malversação do dinheiro público e a inexistência de serviços prestados pelo Estado com o mínimo de competência. Ele acha que "as pessoas fizeram a relação direta entre a corrupção e a qualidade de vida que têm. Para muitos, o mais dramático é que o Brasil cresceu nos últimos anos. Mas as pessoas perceberam que os benefícios não foram compartilhados e que parte disso ocorreu por conta da corrupção".
Os brasileiros e os cidadãos dos outros 106 países que responderam ao levantamento também consideram "corruptos ou muito corruptos" outros serviços públicos geridos pelo Estado: polícia (70% no Brasil e 60% de média mundial), sistema de saúde (55% e 45%), Judiciário (50% e 58%) e funcionalismo público (46% e 57%). Entre os servidores os entrevistados trataram com mais benevolência os militares: 30% e 34%. E setores fora do Estado foram avaliados com menos rigor: imprensa (38% e 39%), setor privado (35% e 45%) e Igreja (31% e 29%).
Ou seja, é generalizada a sensação de que a corrupção pública é mais notória e mais daninha do que a do setor privado.

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