Com poucos processos, Justiça Militar é ameaçada de extinção
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22 Jul 2013
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Por Arthur Rosa e Bárbara Pombo | De São Paulo e BrasíliaNo Tribunal de Justiça Militar de São Paulo, o tempo médio de tramitação de processos na primeira instância foi de 15 meses em 2012. Na segunda, de cinco meses
Quem
passa pela rua Dr. Villa Nova, no bairro Vila Buarque, em São Paulo,
quase não percebe a presença de um tribunal. Num prédio simples,
localizado no número 285, funcionam as duas instâncias da Justiça
Militar do Estado de São Paulo. Em Brasília, a sede do Superior Tribunal
Militar (STM) também destoa das que abrigam o Superior Tribunal de
Justiça (STJ) e o Supremo Tribunal Federal (STF). Se não chamam atenção
por suas instalações, essas desconhecidas esferas do Judiciário
despertaram a curiosidade do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) por seus
números: gastos somados de R$ 419 milhões para o julgamento, em 2011,
de aproximadamente oito mil processos contra policiais militares e
integrantes das Forças Armadas.
Os
dados do relatório "Justiça em Números" foram considerados
"escandalosos" pelo ministro Joaquim Barbosa, presidente do CNJ e do
Supremo. A polêmica surgiu durante o julgamento pelo conselho de um
processo disciplinar contra dois juízes do Tribunal de Justiça Militar
de Minas Gerais (TJM-MG), acusados de, intencionalmente, perderem o
prazo para julgar ações criminais contra policiais militares.
Diante
do problema, os conselheiros olharam os números da Justiça Militar
Estadual, presente nos Estados do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas
Gerais, e do Superior Tribunal Militar (Justiça Militar da União) e
constataram um volume pequeno de processos em tramitação (um total de
13,2 mil em 2011, ante os milhões da Justiça Estadual) e de julgamentos.
Enquanto um magistrado da Justiça Estadual proferiu 1.392 sentenças ou
decisões terminativas naquele ano, o da Justiça Militar Estadual apenas
177.
No
caso, os conselheiros só advertiram os juízes mineiros. Apesar da pena
branda, o ministro Joaquim Barbosa aproveitou a oportunidade para
determinar a criação de grupo de trabalho para elaborar um diagnóstico e
dar um veredicto para a Justiça Militar Estadual e a da União.
Uma
das saídas cogitadas seria a extinção desses tribunais e a
transferência das ações para a Justiça comum. Outra possibilidade seria
restringir a atuação da Justiça Militar da União aos tempos de guerra. O
grupo de trabalho, composto por seis membros, deve entregar um
relatório final até outubro. "O trabalho não significa que estamos
descontentes com a Justiça Militar", diz o coordenador do grupo, o
conselheiro Wellington Cabral Saraiva, procurador da República.
Diante
da repercussão, os dirigentes dessas Cortes - oficiais da Polícia
Militar e das Forças Armadas - afinaram seus discursos. Para eles, é
preciso, antes de tudo, conhecer a fundo o funcionamento da Justiça
Militar Estadual e a da União, que não contam com representantes no CNJ.
"Isso é um absurdo. Não se pode verificar a relevância com números
frios", diz o presidente do Tribunal de Justiça Militar de São Paulo
(TJM-SP), coronel Orlando Eduardo Geraldi, da Polícia Militar paulista.
Os
militares argumentam ainda que a extinção desses tribunais traria
repercussões negativas às tropas. A resposta rápida às infrações,
segundo eles, repercute e tem um efeito preventivo grande. "A
transferência dos casos para a Justiça comum transformaria as Forças
Armadas em bandos", afirma o general Raymundo Nonato de Cerqueira Filho,
presidente do STM desde março de 2010.
Para
o coronel Geraldi, é preciso levar em consideração o efeito da demora
dentro da tropa. A Justiça Militar paulista, de acordo com ele, é
célere. No ano passado, o tempo médio de tramitação dos processos na
primeira instância foi de 15 meses. Na segunda instância, de cinco
meses. "Na Justiça comum, demoraria anos. O juiz militar é o da
obediência. O civil, o da liberdade", diz.
Além
da demora no julgamento, segundo o presidente do STM, há risco de um
juiz civil colocar os crimes militares "na vala comum". Ou seja,
considerar o crime de deserção apenas como falta ao trabalho ou julgar
insignificante o caso de um militar flagrado dormindo ou com drogas
dentro do quartel. "Julgamos com celeridade para manter a hierarquia e
disciplina, os pilares básicos das Forças Armadas", afirma.
Em
maio, por exemplo, o Superior Tribunal Militar expulsou do Exército
nove soldados que dançaram funk ao som do hino nacional dentro de um
quartel no Rio Grande do Sul. Os ministros classificaram o ato como
"desrespeito e ultraje".
Juízes,
defensores públicos e procuradores da área militar defendem, além da
manutenção desses tribunais, a ampliação de suas competências. Querem,
por exemplo, a análise de crimes de homicídio praticados por militares
contra civis. "Em vez de duas décadas, o massacre do Carandiru teria
levado quatro anos para ser julgado", afirma o juiz Ronaldo Roth, da 1ª
Auditoria Militar de São Paulo.
Para
a defensora pública Janete Zdanowski Ricci, há 30 anos atuando na
Justiça Militar da União, o CNJ poderia encontrar um caminho
alternativo: "Seria um novo modelo para aumentar a competência e elevar o
volume de processos", diz.
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Maioria dos ministros é das Forças Armadas
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22 Jul 2013
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Por Bárbara Pombo | De Brasília
Última
instância da Justiça Militar da União, o Superior Tribunal Militar
(STM) possui 15 ministros civis e militares com o mesmo status e
privilégios dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e do
Superior Tribunal de Justiça (STJ). Apesar disso, são desconhecidos,
inclusive dentro do Poder Judiciário, do qual fazem parte desde 1934.
Dez
dos 15 ministros são militares. O restante, civis. Todos os cargos são
vitalícios. Cada um deles tem direito a um salário bruto de R$ 26 mil.
Mas os rendimentos líquidos - que variam de R$ 12,6 mil a R$ 17,6 mil -
ficam aquém dos salários dos ministros do Supremo e do STJ, cujos
rendimentos com descontos chegam a R$ 26 mil. O campo de atuação dos
militares, porém, também é menor: julgar recursos contra os integrantes
das Forças Armadas (327 mil da Marinha, Exército e Aeronáutica).
Para
ser ministro do STM, o militar deve ter a mais alta patente
hierárquica. Eles são escolhidos internamente pela cúpula do Exército,
Marinha e Aeronáutica também pelo fator antiguidade. Os nomes são
submetidos à aprovação do presidente da República e do Senado. A escolha
dos civis é política, embora também tenham que passar pelo crivo do
Executivo e do Legislativo. São três advogados, um promotor do
Ministério Público Militar e um juiz de carreira vindo da primeira
instância da Justiça Militar da União.
Nas
tardes de terças e quintas-feiras, os 15 ministros se reúnem no segundo
andar da sede de 32 mil metros quadrados do Superior Tribunal Militar,
situada no centro de Brasília. A função deles é julgar recursos contra
decisões da primeira instância, representada por 18 auditorias militares
espalhadas pelo país. No salão com móveis de madeira escura e tapete
avermelhado, normalmente não há plateia e a sonolência entre os
julgadores parece ser inevitável, como testemunhou o Valor em uma sessão
de maio.
Além
de julgar crimes cometidos pelos 327 mil integrantes das Forças
Armadas, os juízes militares ainda têm a incumbência de analisar alguns
tipos de infrações de civis, como invasões de áreas militares ou
estelionato previdenciário, quando a viúva de um ex-militar falece e os
dependentes continuam recebendo a pensão. "Teve gente que lesou o erário
em mais de R$ 1 milhão", diz o presidente do STM, general Raymundo
Nonato de Cerqueira Filho.
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