[Lembro que a prisão para averiguação, instrumento usado pelo regime militar, foi amplamente utilizado durante as manifestações de rua como no caso do rapaz detido por carregar vinagre em sua bolsa]
Policiamento democrático
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25 Jul 2013
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Merval Pereira
A
dificuldade em atuar na repressão a atos de vandalismo dentro das
estritas normas legais, flagrante no decreto que criou no Rio de Janeiro
a Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em
Manifestações Públicas (CEIV), precisa ser superada com a adoção das
melhores práticas já utilizadas em outros países.
O
governo do Estado do Rio teve de agir com rapidez diante da reação de
juristas e organismos de defesa do cidadão que consideraram
inconstitucionais várias partes do decreto. Ficou claro, na nova versão,
que a comissão não tem o direito de quebrar sigilos, o que só
acontecerá se aprovado pela Justiça.
Ontem
tratei da existência de diversos manuais de associações de polícias
sobre o controle de manifestações de massas que o cientista político
Geraldo Tadeu Monteiro selecionou em uma pesquisa, manuais que desejam
conferir mais eficácia à ação policial, respeitando o direito do cidadão
à livre manifestação pacífica. Os princípios do policiamento
democrático de manifestações de massa, por exemplo, são os seguintes,
para a polícia britânica, conforme o "Manual of guidance on keeping the
peace" , da NPIA (Agência Nacional para Melhoria no Policiamento) e
ACPOS (Associação dos Chefes de Polícia da Escócia):
a)
Polícia acessível, imparcial e que busca o consenso; b) Diálogo e
sinceridade na relação com os manifestantes, além de relação positiva
com a imprensa; c) Um comando preparado e resistente (à provocação); d)
Respostas apropriadas e proporcionais (respeito aos direitos humanos,
uso de inteligência com recurso a especialistas e uso mínimo da força).
Um
trabalho do diretor do Police Executive Research Forum (PERF), Tony
Narr, e diversos especialistas, do qual falei ontem, aponta maneiras de
enfrentar movimentos de massas com êxito, sem ferir os direitos dos
cidadãos de se manifestar. O PERF é uma organização sem fins lucrativos
fundada em 1976 que dá assistência técnica e educação executiva a
polícias e outros organismos de aplicação da lei. O manual analisa
especificamente o controle de multidões e uso da força, indicando a
necessidade de prévia identificação de grupos potencialmente
disruptivos. Ao mesmo tempo, é preciso facilitar a manifestação pacífica
e estabelecer comunicação com a multidão através de seus líderes:
"Especialmente
nessas situações, é crucial tratar as pessoas com respeito e
conquistá-las para o lado do respeito à lei, não para o lado dos que
promovem o conflito", ressalta Narr.
As
prisões podem ser utilizadas "com parcimônia e de maneira apropriada",
com técnicas de pressão pontual, aliadas a controles "com mãos nuas" (
empty-hand controls ), algemação eficiente e métodos de acompanhamento
de presos devem ser usados para remover com respeito ( humanely ) os
manifestantes enquanto se minimiza o risco de injúria a manifestantes e
policiais.
O
uso da força deve ser estritamente regulado. "A teoria de um uso
gradativo da força em resposta à escalada da desordem é baseada naquilo
que é razoável e apropriado." Os autores observam que a escalada da
violência é um dos objetivos de alguns manifestantes que, assim, podem
"denunciar" o caráter repressivo do governo.
Até
os equipamentos de proteção devem ser pensados: "A imagem de um
"Robocop" pesadamente protegido (...) pode ter um efeito negativo no
público, que pode achar que a polícia está usando mão pesada e reagindo
de maneira desproporcional."
O
uso de armas não letais deve ser estritamente regulado pelas seguintes
diretrizes: a) tem de ser proporcional à ameaça; b) seu uso deve cessar
assim que o objetivo for atingido; c) o uso deve ser autorizado pelo
comando; d) os agentes que usam esses equipamentos devem estar
plenamente e regularmente treinados para avaliar as consequências do seu
uso.
O
manual recomenda ações voltadas à interação com a mídia para alcançar
os objetivos da ação policial. É preciso haver uma estratégia de mídia,
com informações para jornalistas e para o público, buscando minimizar
eventuais prejuízos aos cidadãos, dar informações seguras,
estabelecimento de centros conjuntos de informação, realização de
coletivas e atividades pós-evento com relatórios e prestações de contas
ao público via imprensa.
Os pontos-chave
1
Pelo
manual da polícia britânica, os princípios do policiamento de
manifestações de massa são: polícia acessível, imparcial e que busca o
consenso; diálogo e sinceridade na relação com os manifestantes; além de
relação positiva com a imprensa
2
E ainda: um comando preparado e resistente (à provocação); respostas apropriadas e proporcionais
3
O
uso de armas não letais tem de ser proporcional à ameaça; deve cessar
assim que o objetivo for atingido; deve ser autorizado pelo comando; os
agentes que usam esses equipamentos devem estar plenamente e
regularmente treinados para avaliar as consequências do seu uso
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