08/07/2013 14:57 |
"Revolução é a saída", por Marcos Cintra* |
...Sempre existiu ladrão na administração pública, aqui e no resto do mundo. É da natureza humana. Mas no Brasil é mais do que isso. Criou-se uma organização criminosa, uma estrutura político-social organizada, incrustada no poder, agindo de maneira sistêmica e orgânica, comprando votos e ... |
Corrupção
e enriquecimento ilícito tornaram-se fatos corriqueiros e tolerados
pela população. Crimes como o mensalão, por exemplo, que se tornou o
maior ícone da ação de quadrilheiros roubando em benefício próprio,
derrubariam governos e fariam revoluções em países ciosos de seus
direitos.
Sempre existiu ladrão na administração pública, aqui e no resto do mundo. É da natureza humana. Mas no Brasil é mais do que isso. Criou-se uma organização criminosa, uma estrutura político-social organizada, incrustada no poder, agindo de maneira sistêmica e orgânica, comprando votos e consciências, e violentando o funcionamento das instituições. Tudo isso afasta da política os homens bem intencionados, criando uma reserva de mercado e um vasto campo de atuação para os setores podres da sociedade que fazem da política e da atividade pública uma profissão, tendo como única meta atingir seus objetivos pessoais. A política deixa de ser uma contribuição que os cidadãos devem sentir-se moralmente obrigados a oferecerem aos demais concidadãos, e passa a ser um meio de vida. Homens públicos abandonam suas atividades profissionais, e passam a depender da política para garantirem sua sobrevivência. Pessoas nessas circunstâncias tornam-se capazes de tudo e de qualquer coisa para sobreviverem. Ao invés de profissionalizar a administração pública, como fazem os países avançados, profissionaliza-se a política, que passa a substituir o burocrata de carreira (no bom sentido) na gestão do Estado. Quando as elites se locupletam, o povo sente-se legitimado para fazer o mesmo. Os meios de comunicação glorificam desvios de conduta éticos e morais. Novelas principalmente, escoradas no princípio inquestionável da liberdade de opinião e estimuladas pela desbragada luta por audiência, desafiam a consciência dos cidadãos que ainda possuem algumas referências para discernir o certo do errado. A apologia da malandragem, da ganância, da luxúria e de outros vícios corrói instituições e valores tradicionais como a família e a convivência pacífica e civilizada entre pessoas. A acintosa ostentação dos ricos é ofensiva e aguça a violência. A indústria do medo prospera de forma assombrosa. A propriedade privada passou a ser um direito relativo com a inatividade do governo frente às invasões de terras e de imóveis urbanos. A depredação de bens não é mais punida, desde que seja protegida sob o manto dos "movimentos sociais". O poder público se omite e tenta acomodar a situação. O Brasil beira a afronta institucional. E enquanto tudo isso ocorre, a chamada "sociedade civil organizada" apenas esboça reação com inúteis mobilizações midiáticas que em geral posicionam-se contra, corretamente, muitos aspectos de nossa vida institucional, mas mostram-se incapazes de serem a favor de algo capaz de avançar na busca de soluções efetivas. Mobilizam, sem propor. Deixam a impressão de terem apenas objetivos políticos eleitorais. Só uma revolução salva o Brasil. Revolução de ideias, e disposição para mudar. __________________________________________________________________________ Marcos Cintra - É doutor em Economia pela Universidade Harvard (EUA), professor titular e vice-presidente da Fundação Getulio Vargas. www.marcoscintra.org / mcintra@marcoscintra.org |
quarta-feira, 10 de julho de 2013
Cintra: "O Brasil beira a afronta institucional"
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