[Aviso do Estadão aos navegantes. Quem é o responsável constitucional para manutenção da lei e da ordem]
A bagunça vai se instalando
O Estado de S. Paulo - 30/07/2013 |
As manifestações que começaram no mês
de junho não só perderam envergadura, como se tornaram mais raras, mas
os atos de vandalismo promovidos por pequenos grupos, que nelas se
infiltram, continuam com o mesmo ímpeto. Muitas vezes eles agem
sozinhos, sem buscar a cobertura da grande maioria dos manifestantes
pacíficos. Como não são reprimidos pela polícia - ou só o são, e ainda
assim de forma tímida, quando sua violência ameaça escapar a todo
controle sua ousadia vem num crescendo.
Eles voltaram a atacar na
sexta-feira, deixando em São Pau-o um rastro de destruição por onde
passaram e, no Rio, amedrontando peregrinos reunidos à noite na Praia
de Copacabana, onde se realizava um show promovido pela Jornada Mundial
da Juventude. Na capital paulista, a manifestação - em apoio aos
jovens que no Rio protestam contra o governador Sérgio Cabral - começou
pacífica por volta das 18 horas no vão livre do Masp, na Avenida
Paulista. Mas logo desandou, quando entrou em ação um grupo de
participantes dos Black Blocks, que se intitulam anarquistas.
Eles ignoraram os apelos dos
organizadores da manifestação para que não houvesse vandalismo e logo
começaram um quebra-quebra. Depredaram 13 agências bancárias e picharam
as Estações Trianon e Brigadeiro do metrô. Os poucos PMs ali presentes
assistiram a tudo passivamente. Um tenente disse à reportagem do
Estado que a ordem era não intervir.
Quando um manifestante pediu a outro
PM que agisse contra os vândalos, ouviu como resposta: “Se você for até
a delegacia e identificar (o suspeito de vandalismo) eu levo. Senão,
não posso”. Os Black Blocks se dirigiram em seguida para a Avenida 23
de Maio, onde usaram um ônibus biarticulado para interromper o
trânsito. Só então a PM interveio, liberando o trânsito, e conseguiu
dispersar o grupo quando ele retornou à Paulista.
No Rio, dessa vez não houve
destruição, mas em compensação o susto foi grande. Cerca de 300
manifestantes, gritando “Fora Cabral” e “Não vai ter Copa”, tentaram
invadir a área que dá acesso ao palco onde pouco antes estivera o papa
Francisco. Os peregrinos reagiram com medo e, se o show que se
realizava ali no momento não tivesse sido encerrado antes da hora por
causa dos gritos dos manifestantes, favorecendo sua dispersão, eles
poderiam ter provocado pânico, com as consequências facilmente
previsíveis.
A agressividade crescente desses
grupos e o comportamento hesitante da polícia, que só intervém em
último caso, quando o mal já está feito, criam uma situação altamente
perigosa. Ela combina o medo da população - que, quando não presencia,
assiste pela televisão as cenas impressionantes de destruição - com a
ousadia dos vândalos, alimentada pela impunidade de seus atos.
À essa altura, nada mais justifica a
hesitação e a timidez da polícia. Se a própria maioria dos
manifestantes deixa clara sua discordância com a violência, o que os
governantes ainda esperam para determinar às forças da ordem que ajam
com o rigor que a situação exige? Ao contrário do que afirmaram algumas
autoridades policiais, não há dificuldade alguma em distinguir os
grupos violentos dos demais manifestantes. Basta ver o que fazem.
A passividade da polícia só se
explica pelos receios dos governantes de serem acusados de violentos. O
que se exige deles é a firmeza que tem faltado, porque a violência
hoje está do outro lado - o dos grupos de vândalos. Nenhum deles -
sejam os autoproclamados anarquistas como os Black Blocks, os
skinheads, os fanqueiros ou os simples bandidos -esconde sua clara
adesão aos atos violentos para atingir objetivos tão vagos que a
violência em si parece satisfazê-los.
Como o governo pode tolerar isso? Sua
omissão só estimula os quebra-quebras e, a continuar assim, é grande o
risco de que a situação fuja ao controle nas grandes cidades. Evitar
isso, mantendo a ordem, é a atitude mais democrática a ser adotada
pelos governantes. A bagunça não combina com a ordem democrática. É o
seu oposto.
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