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REDES
SOCIAIS, DEMOCRACIA REPRESENTATIVA E A NOVA DEMOCRACIA
DIRETA!
Ex-Blog entrevista Cesar Maia.
1. Ex-Blog: As redes sociais significam a morte da
democracia representativa? Cesar Maia: Certamente
não. Paradoxalmente significam a morte da democracia direta da forma
que as organizações de esquerda pensavam e atuavam e ainda
acreditam. A democracia direta, para elas, eram plenários de
sindicatos, associações de moradores, conselhos deliberativos
dentro dos governos, etc. Essa democracia direta, sonhada pela esquerda,
está desaparecendo. Agora a dialética entre democracias,
representativa e direta, se dará com a nova democracia direta das
redes sociais ao lado da democracia representativa. O vetor resultante
não será o mesmo.
2. Ex-Blog: Por quê? CM: As
redes sociais são horizontais, empoderam o indivíduo,
desierarquizam, não convivem com um plenário onde quase todos
ficam no auditório aplaudindo ou vaiando e uma meia dúzia no
palco, discursando, decidindo, comandando.
3. Ex-Blog: As ruas mostraram que a
mobilização pelas redes sociais é de classe
média. CM: Esse é um olhar de retrovisor.
Essa é uma afirmação tautológica. Explico. As
redes sociais têm como instrumento e veículo a internet. Seu
acesso natural e cotidiano ainda está concentrado na classe
média, por seus custos. Mas está menos hoje do que estava
ontem. Na medida em que os usuários espontâneos ainda
são principalmente de classe média, as redes sociais a
mobilizam muito mais hoje. Mas não será assim amanhã.
E o perfil dos mobilizados irá correspondendo ao perfil da
sociedade.
4. Ex-Blog: Mobilizados? CM: Sim.
Estamos passando do que os sociólogos chamavam e chamam de sociedade
civil organizada para outro momento: sociedade civil mobilizada.
5. Ex-Blog: O que mobiliza as pessoas via redes
sociais? Quais as demandas? CM: Essas respostas que os
sociólogos e politólogos entrevistados pela imprensa procuram
dar (contra a corrupção, por melhores e mais baratos
serviços, contra os partidos, contra os políticos) partem da
mesma lógica da sociedade civil organizada, racional e
reivindicatória. Eles deveriam introduzir em suas análises
alguns elementos da pós-modernidade.
6. Ex-Blog: Quais? CM: A
mobilização como um fim. A mobilização como
entretenimento. E as demandas vão entrando pela facilidade de
mobilizarem. E esse não é um processo racional, mas uma
espécie de web-darwinismo, onde sobrevivem na rede as ideias que
produzem maior interação e que mobilizam. Que destaques
são dados pela imprensa? Claro, aquelas postagens, vídeos...,
que têm o maior número de acessos.
7. Ex-Blog: Como os políticos podem
participar das redes sociais? CM: De duas maneiras.
Horizontalmente como cidadãos-indivíduos empoderados como
todos e, –atenção- atentos diariamente ao
web-darwinismo e buscando jogar nas redes sociais suas ideias com a
linguagem das redes sociais e, assim, entrando no jogo do multiplicador,
com humildade.
8. Ex-Blog: Que livros recomendaria aos que nos
acompanham? CM: Um autor do final do século XIX. O
fundador da microssociologia, da micropolítica. O francês
Gabriel Tarde, que antecipa tudo isso em seu genial “As leis da
imitação” (Les Lois de L’Imitation), publicado em
1890. E, infelizmente, não traduzido para o português. Em
português temos um livro que ajuda muito (tese de doutoramento de
1994), de Eduardo Viana Vargas, publicado em 2000: “Antes Tarde do
que Nunca: Gabriel Tarde e a Emergência das Ciências
Sociais”, Contracapa Editora.
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