Manuel Castells, sociólogo da Universidade Aberta da Catalúnia, autor de "A Sociedade em Rede"
O que há no mundo, como mostram há tempos os protestos de
rua, "é uma crise de legitimidade do atual sistema político", adverte o
sociólogo espanhol Manuel Castells. "É uma rejeição aos partidos e o
clamor por transparência e participação", acrescenta. Estudioso, desde
os anos 1990, da cultura digital e de seu impacto na sociedade,
Castells afirma que "a democracia atual deixou de ser democrática,
segundo a maioria dos cidadãos do mundo". Nesta entrevista ao Estado,
desde Barcelona, onde vive, ele avisa: "Cabe às instituições encontrar
novas formas de democracia, porque as que temos já estão esgotadas".
Pela rápida mobilização do governo e do Congresso, o sr. vê nos protestos do Brasil um êxito maior que em outros países?
Sim, e isso, se deve ao caráter mais democrático da
presidente Dilma, embora essa abertura às demandas populares não se"
verifique também na classe política - incluindo a maioria do PT. Mas é
claro que os movimentos não vão acreditar nessa abertura até verem
resultados concretos nas políticas sociais e na reforma política.
A ausência, nesses atos, de movimentos tradicionais, como
CUT, MST, UNE e os sem teto, indica que esses grupos, e mesmo os
sindicatos, estão perdendo espaço na sociedade em rede?
Os novos movimentos sociais dispõem de autonomia de
organização, debate e mobilização. As entidades burocratizadas, com uma
cúpula profissional que negocia em nome dos filiados, estão tão
ameaçadas quanto os partidos políticos.
Como descreveria o impacto dessas redes? em especial na democracia contemporânea?
Elas apontam para uma crise de legitimidade do atual
sistema político, organizado na partidocracia, na política midiática e
na dominação da política pelo dinheiro, legal e ilegalmente. Analisei
todo esse processo em meu livro Comunicação e Poder (não lançado ainda
no Brasil). Em todos os casos, em diferentes contextos e condições
econômicas, o que há de comum é a rejeição aos partidos e o clamor por
transparência e participação. Os cidadãos lembram aos políticos que o
governo não é deles, mas dos cidadãos que os elegem e pagam. Agora cabe
às instituições encontrar novas formas de democracia, porque as que
temos estão esgotadas no mundo inteiro.
Mas os protestos organizados em rede têm limites. Não
oferecem interlocutores e as demandas são muito amplas. Como superar
essa contradição?
Não é uma contradição. Eles rechaçam a gestão dos
governos por entender - provavelmente com razão - que a gestão dos
políticos é em beneficio próprio, não para os cidadãos. Eles criticam a
corrupção, a arrogância, a falta de transparência e de participação. A
essa rejeição cabe às instituições responder com diálogo e propostas
de mudança. Não se trata de negociar com uma cúpula, mas de responder
às demandas do movimento. O que é seguro é que a democracia atual
deixou de ser democrática, segundo a maioria dos cidadãos em todo o
mundo, e que sua recuperação terá de ocorrer a partir dos movimentos
autônomos surgidos na rede. O maior perigo para a democracia é a atual
classe política.
Comissão da Câmara vota fim do foro privilegiado
Débora Álvares / Brasília
Enquanto o Senado ainda tenta fazer um acordo para votar o
projeto que acaba com o foro privilegiado para autoridades como
parlamentares, ministros de Estado e presidente da Repáblica. Uma
proposta de emenda à Constituição (PEC) mais simples que suspende
prerrogativa apenas para deputados e senadores, será votada hoje pela
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados,
O presidente da comissão, deputado Décio Lima (PT-RS), disse que está ouvindo o clamor das mas ao pôr o projeto em votação.
"É um dos temas pedidos pela população nas ruas e precisamos dar essa resposta à sociedade."
A matéria deve ser aprovada por ampla maioria, pois todos
os partidos passaram a defendê-la. Com isso, abre-se a possibilidade
de seguir ainda hoje para o plenário - caso os líderes assim decidam,
apresenta-se um requerimento de urgência que acelera o rito e o projeto
passa na frente dos demais.
Nesse tema, governo e oposição estão juntos. O líder do
DEM, Ronaldo Caiado (GO), afirmou ontem que, se é essa a vontade do
povo, ele não vai se opor a que o projeto siga diretamente para o
plenário.
A proposta da Câmara, que tramita desde 2005 e já chegou a
ser arquivada duas vezes nas trocas de legislatura, altera a
Constituição ao retirar dos parlamentares a garantia de julgamento pelo
Supremo Tribunal Federal. A matéria é um dos " itens da pauta de
reivindicações entregue por manifestantes ao presidente da Casa, o
deputado Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).
O texto que está no Senado, de autoria do senador Álvaro
Dias (PSDB-PR), é mais amplo e inclui outras autoridades como ministros
de Estado, governadores e presidente e vice-presidente da República.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB- AM), defendeu a aprovação da
proposta na Casa. "O povo não quer que ninguém seja t
ratado com privilégio" disse, partir do momento em que é julgado na
primeira instância e vai para a segunda, é julgado por um colegiado e,
se for condenado, já se enquadra nas regras da Lei da Ficha Limpa". |
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário