[O Brasil almeja um assento no Conselho de Segurança da ONU. Como, se não consegue manter a paz interna? E o custo disto é escondido do contribuinte brasileiro.]
Brasil gastou R$ 689 mi de adicional no Haiti
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30 Jul 2013
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Governo complementa o salário dos militares que fazem parte da missão das Nações Unidas no país caribenhoSem contar reembolso dado pela ONU, gastos do Tesouro brasileiro com a operação no Haiti chegam a R$ 2,3 bilhõesRUBENS VALENTE DE BRASÍLIA
O
governo brasileiro gastou R$ 689 milhões, em valores atualizados,
apenas com adicionais salariais para os militares que servem na missão
das Nações Unidas no Haiti, no período que vai do início da operação, em
2004, até dezembro de 2012.
O
valor, obtido pela Folha em consultas aos comandos do Exército, Marinha
e Aeronáutica --com base na Lei de Acesso à Informação--, era
desconhecido até então e não integrava os balanços do governo nem de
grupos de fiscalização de gastos federais.
Previsto
em lei aprovada pelo Congresso, o adicional, que tem o nome técnico de
"indenização", funciona da seguinte forma: o militar que é escolhido
para participar da operação no Haiti ganha uma remuneração mensal em
dólar, paga em espécie, sem prejuízo do vencimento normal que já recebe
no Brasil.
Um
terceiro-sargento, por exemplo, que recebe no Brasil em média R$ 2.700
líquidos, obtém mais US$ 3 mil (R$ 6.700) mensais pela missão no Haiti
--há hoje 231 terceiros-sargentos atuando no país caribenho.
O
valor escalonado dos adicionais foi estabelecido em 2004 por meio de
lei elaborada pelo governo. As despesas com os adicionais só em 2012 (R$
106,3 milhões), por exemplo, foram o dobro do desembolsado pelo
Exército com o programa "preparo e emprego combinado das Forças
Armadas".
Na
justificativa enviada ao Congresso quando da aprovação da lei, o então
ministro da Defesa, José Viegas, procurou relativizar o gasto, ao dizer
que "o custo de uma operação de paz estará, em linhas gerais, limitado
aos gastos com pagamento de pessoal no exterior e às despesas com
viagens de inspeção, apoio e coordenação".
Segundo
Viegas, "os demais custos" seriam "reduzidos ou cobertos pelas
indenizações e reembolsos previstos na legislação da ONU para esse tipo
de evento".
REEMBOLSOS
O
reembolso da ONU ficou muito abaixo dos gastos reais. Em 2004, o Brasil
passou a comandar a missão no Haiti como parte da estratégia do governo
Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) de buscar apoio internacional
para obter uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU --o
que até hoje não ocorreu.
Com
as "indenizações", o gasto total do governo brasileiro no Haiti de 2004
a dezembro de 2012 atingiu R$ 3,04 bilhões, em valores atualizados pela
inflação. No mesmo período, a ONU reembolsou o Brasil em R$ 709
milhões, em valores igualmente corrigidos. Assim, o Tesouro brasileiro
desembolsou efetivamente R$ 2,33 bilhões.
Em
nota à Folha, o Ministério da Defesa afirmou que os reembolsos da ONU
"cobrem os custos gerados pelo emprego efetivo da tropa na missão de
paz".
"Os
custos referentes às fases anteriores e posteriores ao emprego da tropa
(mobilização, preparo e desmobilização) são, em geral, arcados pelo
país contribuinte, como no caso do Brasil", diz o texto do ministério.
Não há previsão oficial para a saída das tropas brasileiras do Haiti --hoje são 1.120 militares na missão.
Em
ao menos duas ocasiões, o ministro da Defesa, Celso Amorim, já
manifestou sua preocupação sobre evitar "uma zona de conforto" no Haiti.
Em maio último, disse que o Brasil pretende "progressivamente deixar
para o Haiti a responsabilidade por sua segurança e pela manutenção da
lei e da ordem".
Indagado
pela Folha sobre os benefícios da presença brasileira no Haiti, o
Exército disse, em nota, que a missão "traz crescente prestígio à
política externa e às Forças Armadas brasileiras, aumentando a projeção
nacional no cenário mundial".
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