Jornal do Commercio, 12 de maio de 2013.
Democracia
Imperfeita
Jorge
Jatobá
A revista The Economist (Economist Intelligence
Unit) publicou recentemente um estudo sobre a situação da democracia no mundo.
A publicação intitulada “Democracia Imobilizada” mede e ordena a democracia em 165
países por meio de uma escala que varia de zero a dez. A escala é baseada em 60
indicadores agrupados com igual peso em cinco categorias: processo eleitoral e
pluralismo, funcionamento do governo, participação política, cultura política e
liberdades civis. O Brasil obteve nota global 7,12 situando-se em 44° lugar, sendo
classificada no grupo de “Democracias com Falhas”. A pior nota brasileira
(4,38) foi para o grupo de indicadores que mede a cultura política. A partir
daí e por ordem crescente o país obteve nota 5,0 para participação política,
7,5 para o funcionamento do governo, 9,12 para liberdades civis e 9,58 para processo
eleitoral e pluralismo. Aplaudamos as duas últimas, mas analisemos criticamente
as três primeiras.
Embora as razões mais
detalhadas para as notas não estejam explicitadas no relatório, a baixa
avaliação para cultura política parece originar-se da antiga prática do “dando
é que se recebe” do qual o mensalão é a expressão estelar, do aparelhamento
fisiológico e ideológico das instituições e empresas públicas, das tentativas
de retaliar poderes constituídos porque feriram interesses corporativos e projetos
partidários de poder e da passividade e da apatia da grande maioria da
população que conforma uma cidadania dócil e obediente que não detém uma visão
medianamente critica dos políticos e das suas instituições.
A baixa nota para participação política deve
decorrer de uma frágil presença dos cidadãos na vida pública. Isso deveria se
dar através da participação dos principais grupos de interesse no debate político,
da eleição livre de coerção e da “compra” de votos e da facilidade dos cidadãos
de identificar claramente e de afiliar-se a partidos políticos com os quais tivessem
afinidade ideológica. Todavia, o escasso e confuso conteúdo ideológico dos
partidos políticos brasileiros é notável, afastando a participação dos diversos
segmentos da sociedade. Além disso, alguns poucos segmentos organizados dentro do espectro político brasileiro têm sido cooptados pelo poder estabelecido
abdicando da sua capacidade de criticar e de oferecer alternativas para o
debate político qualificado.
As eleições no Brasil,
apesar dos avanços, está sendo dominada pelo poder econômico e pelo poder de
mobilização de grupos inspirados por interesses corporativos. Está cada vez
mais caro se candidatar e ser eleito e se torna cada vez mais difícil para um
cidadão se viabilizar como candidato se não pertence a grupos definidos por
interesse econômicos, por doutrinas religiosas ou por demandas corporativas. No
Congresso isso se manifesta na contínua perda de qualidade dos seus membros e
pela incapacidade da instituição de entrar em sintonia com as demandas da
sociedade. Nesse sentido, o Congresso envolveu-se recentemente em iniciativas
que; i) fortalecem a impunidade (PEC 37) quando a violência e a corrupção são
endêmicas no país; ii) atingem clausulas pétreas da Constituição relativas aos
pesos e contrapesos que buscam o equilíbrio entre os diversos poderes da
República (PEC 33) e; iii) coloca na Presidência da Comissão de Direitos
Humanos político preconceituoso e despreparado para assumir tal função. Em uma democracia madura a regra de governar
pela maioria não deve desconsiderar a garantia dos direitos humanos individuais
e o direito das minorias.
O funcionamento do
governo não mereceu nota honrosa. Se decisões tomadas democraticamente ao se
endossar pelo voto majoritário a plataforma de um candidato e de seu partido
não são executadas, a democracia perde força e respeitabilidade. As dificuldades
dos políticos e das instancias decisórias para realizar promessas de campanha
são bem conhecidas no Brasil.
Em resumo há significativas
fraquezas na nossa democracia como a má governança, uma cultura política subdesenvolvida
e baixos níveis de participação política. As notas dadas pela The Economist à democracia brasileira
foram, todavia, generosas especialmente ao não levar em conta os altos níveis
de violência, a alta incidência da pobreza, a exclusão socioeconômica de grupos
demograficamente representativos e as persistentes desigualdades regionais, de
gênero e de raça que ainda persistem no nosso país. Além da dimensão política,
esses componentes são significativos para se medir o nível e a qualidade da
democracia brasileira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário