Fernando Rodrigues
O lobby no Congresso
Os empresários com interesses no sistema atual de concessão dos portos atuaram nas últimas semanas. Mas foram beneficiados pelo clima de tocaia formado há algum tempo no baixo clero -duas ou três centenas de deputados pouco conhecidos, uma vez classificados por Lula como "300 picaretas com anel de doutor".
Esses deputados nunca são atendidos no Planalto. Não têm contato com os grandes empresários por trás das pressões e contrapressões no jogo da MP dos Portos. O que esses políticos conhecem muito bem é o nome e o sobrenome dos seus colegas com acesso ao poder, aqueles cardeais convidados para reuniões demoradas com ministros.
Foi o que se passou nesta semana. O líder do PMDB na Câmara, o deputado fluminense Eduardo Cunha, foi chamado para discutir a MP dos Portos com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann. O governo fez o certo, só que na última hora. "Não quiseram conversar nada antes", diz ele.
Aos olhos do baixo clero, Cunha é um herói. Conseguiu ser recebido pelo poderoso Palácio do Planalto em meio ao tumulto atual.
E onde entra o lobby? Os representantes de empresas interessadas em influir na redação final da MP dos Portos instruem seus prepostos a galvanizar a seu favor a insatisfação do baixo clero. Essa massa disforme de congressistas ouve um bom argumento: esta é a hora de vocês mostrarem que merecem respeito. Em bom português, ganhar um dinheirinho das verbas do Orçamento.
Para uma parcela da oposição, falta ao governo um projeto nacional para engajar os congressistas. Parvoíce pura. FHC e Lula conseguiram suas principais vitórias na base da fisiologia. Ruborizada, Dilma segue a mesma cartilha. Fica só com o ônus. É a fisiologia sem resultado, um festim pantagruélico dos lobistas.
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