sexta-feira, 24 de maio de 2013

"Nossa preocupação agora é o PCC entrar no Estado"


Facção criminosa usa postos para lavar dinheiro

Autor(es): Por Marcos de Moura e Souza | De Belo Horizonte
Valor Econômico - 24/05/2013
 

Autoridades de Minas Gerais começaram a investigar indícios de que criminosos  ligados ao PCC, facção criminosa de São Paulo, estariam estendendo seus negócios  pelo território mineiro. As suspeitas são que pessoas do grupo estejam  adquirindo postos de combustíveis no sul de Minas para lavar dinheiro.
No Estado de São Paulo, a prática já é conhecida das autoridades. Postos,  juntamente com falsas cooperativas de transporte público em micro-ônibus e com  imóveis, têm sido um meio a que o PCC vem recorrendo para legalizar recursos  ilícitos.
"Nossa preocupação agora é o PCC entrar no Estado", disse ao Valor o promotor de Justiça Renato Froes A. Ferreira, do Centro de Apoio  Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Ordem Econômica e  Tributária. Segundo ele, o Ministério Público recebeu recentemente donos de  postos da região reclamando de concorrentes vendendo combustível abaixo do preço  e cujas suspeitas estão sendo investigadas.
Na Secretária de Estado da Fazenda, a informação é que na última operação  contra esquemas de sonegação na venda de etanol, em julho na região no município  de Campo Belo, no sul de Minas, surgiram suspeitas de que alguns postos já  poderiam estar nas mãos do PCC.
Especializada no combate ao crime organizado, a promotora de Justiça do  Ministério Público de São Paulo, Beatriz Lopes de Oliveira, diz que a facção  guardou em seus primeiros anos de atuação dinheiro obtido com o crime, em  especial com o narcotráfico, em cofres escondidos em imóveis alugados, em  veículos abandonados ou enterrados. Eram o que os próprios criminosos chamavam  de "minerais".
Mas com a polícia fechando o cerco a esses esconderijos, o modo de operação  foi se refinando e a lavagem de dinheiro passou a ser mais frequente. "Nas  cooperativas de perueiros tem gente do PCC", diz, citando um ramo usado para  esquentar o dinheiro. A compra e venda de imóveis é outro caminho utilizado.
"Começamos a verificar que uma das atividades que o PCC usa para lavar é a  dos postos. Por quê? Porque é muito fácil fazer a troca de titularidade e porque  a fiscalização é difícil", afirma a promotora. "Eles sempre usam o nome de um  laranja, gente que não tem ficha, mas que também não tem mínimas condições  econômicas para ser dona de uma posto".
Segundo ela, esse tipo de transação tem sido identificado não só na capital,  mas também em cidades importantes do interior paulista como Campinas, Araçatuba  e Presidente Prudente. "Tem postos que são adquiridos pela facção que são de  grandes bandeiras e aí é que está a sofisticação", diz Beatriz. "Um posto de uma  marca conhecida serve até de escudo mais eficiente para os criminosos do  PCC."
Juntamente com a lavagem de dinheiro, continua Beatriz, o Ministério Público  identifica muitas vezes nesses postos a prática da sonegação fiscal e da  adulteração das bombas para ludibriar os clientes. Paulo Miranda, presidente da  Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes  (Fecombustíveis), diz que o último mapeamento feito pelo sindicato das  distribuidoras apontou que mais de 70 postos em São Paulo já são de propriedade  do PCC.
Ele confirma que o alvo não são só os postos chamados "bandeira branca". "Às  vezes, eles adquirirem um posto que tem um contrato de exclusividade de compra  de 300 mil litros por mês de uma grande distribuidora. Colocam o preço na bomba  lá embaixo e compram mais 300 mil de fora. Com isso, lavam dinheiro de assaltos  a banco, do tráfico e ganham com a venda de combustível que vêm em caminhões  roubados".
Segundo ele, as informações são partilhadas com MP e Secretaria de Estado da  Fazenda. São Paulo tem o maior número de postos do país, cerca de 8,5 mil. Minas  tem a segunda maior rede, com 4 mil.

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