Barbosa critica falta de 'pluralismo' na imprensa brasileira
Para presidente do Supremo, mídia é dominada por três grandes jornais 'mais ou menos inclinados para a direita'
Ministro também se queixa da ausência de negros em posições de liderança nos veículos de comunicação do país
FRANCISCO JORDÃO
ENVIADO ESPECIAL A SAN JOSÉ (COSTA RICA)Ministro também se queixa da ausência de negros em posições de liderança nos veículos de comunicação do país
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Joaquim Barbosa, criticou ontem a falta de "pluralismo" e a "fraca diversidade política e ideológica" da imprensa brasileira e afirmou que a mídia é dominada por jornais "inclinados para a direita".
Barbosa discursou em inglês durante um evento sobre liberdade de imprensa organizado na Costa Rica pela Unesco, braço da Organização das Nações Unidas (ONU) para a educação e a cultura.
"O Brasil tem hoje três principais jornais nacionais impressos, todos mais ou menos inclinados para a direita no campo das ideias", afirmou o presidente do STF, que disse estar expressando um ponto de vista pessoal, como "cidadão livre e consciente".
O único veículo que Barbosa citou em seu discurso foi o "Jornal do Brasil", cuja versão impressa deixou de circular em 2010. Para o ministro, o surgimento da internet foi um dos fatores responsáveis pela crise na imprensa.
Ele também se queixou da ausência de negros em posições de liderança nos veículos de comunicação do país.
"No Brasil, negros e mulatos representam de 50% a 51% do total da população, mas não brancos são bem raros nas redações, nas telas de TV, sem mencionar a quase abstenção deles nas posições de controle ou liderança na maioria dos veículos de comunicações", afirmou. "É quase como se eles não existissem no mercado de ideias."
Disse ainda que "o Brasil é um país que pune muito as pessoas pobres, negros e sem boas conexões".
ATRITOS
Barbosa foi celebrado em editoriais e capas de revistas por seu papel na
condução do julgamento do mensalão no ano passado, mas já teve vários
atritos com jornalistas.
Em março deste ano, chamou um repórter do jornal "O Estado de S. Paulo" de "palhaço" e recomendou que ele fosse "chafurdar no lixo".
No fim do ano passado, exibiu descontentamento com uma pergunta feita por um jornalista negro e disse que ela reproduzia estereótipos de jornalistas brancos.
A popularidade que ele ganhou com o julgamento chamou a atenção da imprensa internacional também. No mês passado, a revista americana "Time" indicou Barbosa como uma das cem pessoas mais influentes do mundo.
Apesar de ter dito que não acredita na existência de democracias perfeitas, e que "o Brasil está longe de ser uma", Barbosa reconheceu em seu discurso na Costa Rica que houve "conquistas formidáveis no campo da liberdade de expressão e da liberdade de imprensa, especialmente depois da redemocratização".
"Não há censura pública no país, a imprensa exerce, diariamente, seu papel central de levar informação ao público e controlar o poder", afirmou o presidente do STF.
Procurado pela Folha para comentar o discurso do ministro do Supremo na Costa Rica, o diretor-executivo da Associação Nacional de Jornais (ANJ), Ricardo Pedreira, disse que "o Brasil tem mais de 600 jornais diários, que atendem a todas regiões e cidades, com as mais diversas linhas editoriais".
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