O risco bolivariano
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30 Abr 2013
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Rodrigo Constantino
Com
petistas, todo cuidado é pouco. O país assistiu, nos últimos dias, a
uma tentativa escancarada de ataque à democracia. Enquanto artistas da
esquerda caviar protestavam contra o pastor Feliciano, dando beijos uns
nos outros, os "mensaleiros" da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
tentavam usurpar o poder do STF à surdina. Montesquieu ficaria
horrorizado com tanto descaso à divisão entre os poderes.
A
autoria da proposta de emenda constitucional aprovada é de Nazareno
Fonteles, deputado petista pelo Piauí. Não é sua primeira proposta
absurda. Em 2004, ele apresentou um projeto de lei complementar que
estabeleceria uma "poupança fraterna". Puro eufemismo: tratava-se de uma
medida avançada rumo ao socialismo.
O
artigo primeiro dizia: "Fica criado o Limite Máximo de Consumo, valor
máximo que cada pessoa física residente no País poderá utilizar,
mensalmente, para custear sua vida e as de seus dependentes." Acima
desse valor arbitrário definido pelo governo, a renda seria confiscada
para essa poupança compulsória coletiva. Uma bizarrice que nos remete ao
modelo cubano.
É
realmente espantoso que, em pleno século 21, ainda tenhamos que
combater uma ideologia tão nefasta quanto o socialismo, que deixou um
rastro de escravidão, morte e miséria por onde passou. Mas uma ala
petista, com outros partidos da esquerda radical, ainda sonha com essa
utopia assassina. Tanto que chegaram a assinar carta de apoio ao ditador
coreano!
São
os nossos "bolivarianos", que se inspiram no falecido Hugo Chávez, cujo
"socialismo do século 21"é exatamente igual ao do século 20. Vide a
militarização crescente imposta por Maduro, o herdeiro do caudilho
venezuelano, assim como a inflação fora de controle e o aumento da
violência. Socialismo sempre estará associado ao caos social e à
opressão.
Países
que já sofreram na pele com esse regime não querem mais saber de
partidos ostentando tal ideologia. A Hungria, seguindo outros países do
Leste Europeu, acaba de vetar símbolos nazistas e comunistas. Não há por
que proibir a suástica e permitir a foice com o martelo. Ambos
representam regimes assassinos, totalitários, antidemocráticos.
Se
o socialismo é o mesmo de sempre, a tática para chegar a ele mudou.
Hoje, os socialistas tentam destruir a democracia de dentro, ruindo seus
pilares, mas mantendo as aparências. Eles aparelham toda a máquina
estatal, infiltram-se em todos os lugares, e partem para uma verdadeira
revolução cultural, sustentada pelo relativismo moral exacerbado.
Não
existem mais valores objetivos, ninguém pode julgar nada, vale tudo, e
quem discorda sofre de preconceito e é moralista. Com essa agenda
politicamente correta, os socialistas modernos vão impondo uma
mentalidade fascista que, em nome da "tolerância" e da "diversidade",
não tolera divergência alguma.
Triste
é ver que alguns homossexuais aderem a esse movimento, ignorando que o
socialismo sempre perseguiu os gays. Chega a ser cômico ver o deputado
Jean Wyllys usando boina no estilo Che Guevara, um facínora que achava
que os gays tinham de ser "curados" em campo de trabalho forçado.
Como
não temos uma oposição política organizada que valha o nome, resta como
obstáculo a esse golpe bolivariano basicamente a força de quatro
instituições: família, igreja, imprensa e Judiciário. Não por acaso são
esses os principais alvos dos golpistas. Eles sempre menosprezam o
núcleo familiar tradicional, atacam ou se infiltram nas igrejas (vide a
Teologia da Libertação ou a própria CNBB), insistem no "controle social"
da imprensa, e desejam diluir o poder do Ministério Público e do STF.
Há
até mesmo uns dois ali que mais parecem petistas disfarçados de
ministros. Não é exclusividade latino-americana tentar ir por esse
caminho. Roosevelt tentou expandir a quantidade de ministros da Suprema
Corte para diluir a oposição ao seu "New Deal", claramente
inconstitucional. Mas as instituições americanas são mais resistentes e
suportaram o golpe. Na América Latina, infelizmente, há terreno mais
fértil para populistas autoritários.
Nesse
ambiente, os defensores da liberdade e da democracia não podem cochilar
jamais. É preciso tomar cuidado com as cortinas de fumaça criadas para
esconder o jogo sujo dos bastidores. Foi marcante, por exemplo, a
discrepância entre a reação histérica ao pastor Feliciano, e a postura
negligente com os "mensaleiros" na CCJ. Estranhas prioridades.
Nossa liberdade corre sério perigo, e seus principais inimigos são os jacobinos disfarçados de democratas. Acorda, Brasil!
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terça-feira, 30 de abril de 2013
Risco bolivariano
O Globo, 30 de abril de 2013.
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