Federalismo: perigo à vista
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29 Abr 2013
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Maílson da Nóbrega
A
federação brasileira é uma das mais descentralizadas do mundo, mas essa
não é a opinião de governadores e prefeitos, para os quais o governo
federal centraliza excessivamente as receitas. Alegam que a União fica
com 70% da arrecadação, restando 24.5% para os estados e 5,5% para os
municípios. É verdade, mas há que considerar o dinheiro transferido
mandatoriamente para esses últimos. Aí o quadro começa a mudar: a União
fica com 58%: os estados e municípios passam de 30% para 42%. A situação
muda de vez ao se considerarem as responsabilidades constitucionais da
União. A fatia que lhe cabe na receita é compatível com suas obrigações.
Competem
à União os gastos obrigatórios com previdência (INSS), educação, saúde e
encargos da dívida federal. Somados às transferências a estados e
municípios, perfazem cerca de 90% das receitas federais. Há também
despesas obrigatórias na prática como as de defesa, fiscalização e
investimentos mínimos em infraestrutura. Restam à União menos de 5% da
receita para financiar outros gastos (algo como 60 bilhões de reais no
Orçamento de 2013).
Em
menor grau, essa rigidez orçamentária já existia nos anos 1980. Sem
ligarem para isso, governadores e prefeitos empreenderam bem-sucedido
movimento em prol de maiores transferências. Em 1979, a União transferia
20% do imposto de renda e do IPI. Após três reformas constitucionais e a
Constituição de 1988 esse porcentual saltou para 47% do IR e 57% do
IPI, incluindo 3% para fundos regionais de desenvolvimento. Os impostos
da União sobre combustíveis, minerais, transportes e comunicações foram
incorporados ao ICMS estadual. Além disso, a Constituição elevou os
gastos federais com pessoal, previdência, educação e saúde. Um desastre
fiscal para a União: suas despesas obrigatórias aumentaram e as receitas
diminuíram. Se nada fosse feito, o déficit público e a dívida
explodiriam.
A
saída lógica seria aumentar as alíquotas do IR e do IPI os dois
principais impostos da União. Acontece que após as transferências e a
vinculação de receitas à educação, remanescem na União metade do IR e um
terço do IPI. Assim, seria necessário cobrar o dobro do IR e o triplo
do IPI, penalizando ainda mais os contribuintes. A solução menos danosa
seria recorrer às contribuições, que pertencem inteiramente à União.
Elas não geram transferências para outras esferas de governo nem
aumentam automaticamente gastos. A qualidade do sistema tributário
pioraria, mas se evitaria o colapso das finanças federais.
A
carga tributária saltou de 21% para 36% do PIB entre 1987 e 2012. Aí
está a origem da complexidade dos tributos federais, que se agravou
ainda mais com o aumento real de 115% do salário mínimo entre 1994 e
2012. Houve dramática expansão dos gastos do INSS. O salário mínimo
reajusta três quartos dos benefícios e mais de 40% da despesa total. O
manicômio fiscal se instalou. O peso dos gastos e o caos tributário
constituem, hoje, o principal obstáculo à expansão do potencial de
crescimento da economia e da geração de bem-estar.
Mesmo
assim, governadores e prefeitos resolveram reeditar o movimento dos
anos 1980 e querem mais dinheiro da União, usando a mesma tese furada da
excessiva centralização. Como parece claro, a centralização de receitas
foi a consequência natural da decisão da sociedade de elevar as
transferências e os gastos sociais, particularmente os do INSS. A
proposta atual dos governadores é transferir, ao longo de cinco anos,
mais 5% das receitas federais para os estados e municípios.
Se
a medida vigorasse em 2013, haveria transferências adicionais aos
estados e municípios de cerca de 60 bilhões de reais. A União perderia
totalmente sua hoje exígua margem de manobra. Teria de aumentar a dívida
ou a carga tributária. Seria um novo desastre fiscal. Candidatos à
Presidência da República se juntaram ao movimento. Se por acaso um deles
ganhar as eleições, herdará um processo orçamentário ainda mais
disfuncional e custoso. Liderará um país propenso à estagnação ou ao
descontrole inflacionário. O perigo é enorme inclusive por causa da
incapacidade de articulação do governo. Que o diga o caso dos royalties
do petróleo, uma das faces dessa história.
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segunda-feira, 29 de abril de 2013
Manicômio fiscal
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