sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Descrédito de nossas instituições

As ruas e o meu partido

Autor(es): Juliana Brizola
O Globo - 06/09/2013
 
Na passagem dos 52 anos da Campanha da Legalidade — liderada em 1961 por meu avô, o governador Leonel Brizola, que reagiu contra os militares que visavam a impedir a posse do presidente João Goulart após a renúncia de Jânio Quadros — e a dois meses das manifestações que abalaram a credibilidade das instituições brasileiras, há de ser feita uma relação entre aquele movimento e os protestos de hoje.
Ambos momentos fizeram parte da história do Brasil: a comunicação mobilizou multidões seja pelo rádio, como no caso da Legalidade, em que Brizola encampou a Rádio Guaíba e passou a transmitir discursos emocionados dos porões do Palácio Piratini, que mexeram com as consciências das pessoas, e hoje pelas redes sociais através da internet.
A manifestação das ruas agora não foi marcada pela figura de um líder, bastaram algumas "twittadas" "curtidas" e "compartilhamentos" usando a nova linguagem digital para acender a chama da indignação.
A luta que se iniciou em favor da redução da tarifa do transporte público e que sacudiu o país começou em Porto Alegre, assim como foi no passado, quando Brizola liderou a Campanha da Legalidade, que foi o último movimento de mobilização de massas antes do golpe militar de 1964.
Hoje, a pauta popular cresceu na mesma proporção das manifestações: da precariedade do transporte pulou para as péssimas condições de ensino e da saúde e para o abuso de algumas obras da Copa do Mundo, em 2014. O transporte público foi apenas a gota d"água. A razão é uma crise ética agravada mais ainda com a decisão da Câmara de manter o mandato do deputado federal cassado Natan Donatan (sem partido — RO).
Mais de meio século nos distancia do movimento da Legalidade e é inegável que, hoje, os motivos que dinamizam as pessoas para as ruas são outros. Posso afirmar que o inimigo também é outro.
Durante décadas, nós políticos de uma maneira geral deixamos de escutar o povo, e esse silêncio é somado à impunidade e ao descrédito de nossas instituições. Ficou nítida a distância dos partidos e suas bases.
Venho lutando dentro do meu partido, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), pedindo mais democracia interna para estimular a participação popular. Tenho sido alvo de críticas e amargo derrotas nesta luta, mas não me canso de reclamar nas instâncias internas sobre a necessidade de oxigenação através de eleições para o comando partidário, que há quase uma década está nas mãos do mesmo grupo.
As manifestações populares são uma oportunidade para que a política brasileira se reforme. Senão, as vozes da rua é que irão reformar a política brasileira.
Juliana Brizola é deputada e líder do PDT na Assembleia do Rio Grande do Sul

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