De Collor a Enéas, o profissional que cria partidos
O Globo - 06/10/2013 |
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Marcílio Duarte já ergueu oito legendas e diz que espera papel na direção do Solidariedade, de Paulinho
Maria Lima
-BRASÍLIA-
O advogado Marcílio Duarte não aceita nem como piada o apelido
"maníaco das siglas". Com 71 anos, o carioca é o nome por trás da
criação de sete partidos nanicos vistos como legendas de aluguel. Com
vasto conhecimento da burocracia eleitoral, já rodou o Brasil em aviões
de carreira usando milhas de parlamentares ou em jati-nhos cedidos
pelos donos das legendas, organizando a coleta de assinaturas para a
criação de PSL, PGT, PTN, Prona, PTR, PSC, PST — o único que dirigiu —
e, agora, o Solidariedade.
Para cobrir seus honorários, já recebeu de alguns R$ 400 mil, de
outros, apenas um jantar. Ao longo dessa produtiva carreira diz
ter dois arrependimentos: ser corresponsável pela eleição do presidente
cassado, Fernando Collor, em 1989, e ter cedido a presidência de seu
PST, em 1992, para que o hoje senador Álvaro Dias (PSDB-PR) disputasse a
Presidência da República.
Na década de 1980, um anúncio de jornal com um chamamento do então
deputado Álvaro Vale (Arena) lhe chamou a atenção. Ele queria criar um
partido liberal que só aceitava gente de reputação ilibada. Marcílio
achou que se encaixava no perfil.
— Fiquei muito curioso e queria saber como se criava um partido. Ia
advogar no TST, em Brasília, e sempre ficava peruando no TSE, vendo
como aquilo funcionava. Pensei: vou fazer um partido para mim. Conheci
um camarada no TSE que me deu um partido que estava quase pronto, o PTR
— lembra Marcílio, sobre a criação da primeira das sete siglas.
Acabou se desiludindo pelo PTR e, encantando pela figura de LechWalesa,
decidiu que iria construir seu próprio partido trabalhista. Com o
"amigo de bebedeira" o deputado João Cunha, criou o Partido Social
Trabalhista (PST), que chegou a ter cinco deputados federais.
Na época, o então governador Fernando Collor se candidatou numa
coligação do PRN com PJ e PSC, mas, segundo Marcílio, foi a coligação
com o PST que lhe rendeu 10 minutos de TV Cheio de planos, amigo de
poderosos do entorno de Collor, Marcílio já se via na Esplanada. Mas
diz que seus sonhos foram podados pelo irmão, Leopoldo Collor, e pelo
cunhado, Marcos Coimbra.
— Depois não me deram a menor chance. São erros irreparáveis que a
gente comete. Tenho esse arrependimento. Se soubesse que ia acabar no
impeachment, tinha dado o tempo para o Brizola — diz Marcüio.
Em 1992, quando perdeu a eleição para deputado, apareceu na sua
frente um outro governa-dor bonitão, que se destacava no PMDB e queria
ser candidato a presidente pelo seu PST.
— O Álvaro Dias me recebeu em Roma. Estava cheio de cabelo
recém-implantado e tinha um belo discurso! Eu pensei: sou ministro!
Esse aqui não vou deixar cunhado me escantear não!
Mas logo teve a segunda desilusão. O candidato Álvaro Dias alegou
que, na campanha, era melhor que assumisse a presidência do PST e assim
foi feito. O novo presidente teria levado 10 deputados amigos e, mais uma vez, acabou escanteado.
— Foi minha segunda grande decepção política. Mas nem ele foi eleito presidente, nem eu virei ministro.
Afastado do PST, foi criar mais partidos: o PGT, para Ca-nindé
Pegado; o PTN, de Dorival Abreu; e o PSL, para a família Tuma. Em 1994,
retomou o PST, partido pelo qual se elegeu vereador por Mairink (SP),
seu único cargo eletivo. Já com fama de "maníaco das legendas" foi
procurado pelo Doutor Enéas: um médico baixinho, barbudo, com cara de
Bin Laden, dizendo que queria ser presidente.
— Era alopradão! —- relembra Marcílio.
Há dois anos e meio, sob encomenda de Paulo Pereira da Silva, criou o
Solidariedade. E teria que ser o presidente, porque Paulinho não podia
aparecer. Com milhas do parlamentar, voou o país em busca de
assinaturas.
— A gente fez um trabalho lindo, muito bem feito! — conta Marcílio,
que no dia seguinte à aprovação do registro, repassou a presidência a
Paulinho, em troca de uma promessa de candidatura dele ou do filho, e o
cargo de secretário-geral
Se ficou rico, com a criação de tantos partidos, Marcílio diz que não.
— Nada do que fiz foi por dinheiro! Só tenho um sonho: que o
Solidariedade seja mais bem sucedido que os outros partidos que criei.
Se
tiver um espaço para eu ser candidato, serei. Se não conseguir, vou me recolher à minha insignificância. • |
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