Folha de S. Paulo, 1 de outubro de 2013.
Editorial
Entre 99,9% e 100%
Eleito em 2010 pelo PSB como o sexto deputado mais votado do Rio de Janeiro, Romário desligou-se da sigla no início de agosto, alegando divergências internas. Enquanto esteve sem partido, foi cobiçado por outras legendas e chegou a negociar com "seis ou sete" agremiações interessadas.
Na semana passada, afirmou que estava "99,9% fechado" com o recém-criado Pros (Partido Republicano da Ordem Social). Um dia depois, porém, após ouvir promessas de que terá mais poder no PSB, decidiu retornar à antiga casa.
Questionado acerca do drible, saiu-se com esta pérola: "99,9% não equivalem a 100%, né?".
A declaração de Romário foi de imediato incorporada ao folclore do troca-troca partidário brasileiro. Na crônica dos bastidores eleitorais de 2014, estará ao lado de outras afirmações igualmente velhacas, se bem que proferidas por parlamentares menos famosos.
O deputado Marcos Medrado, por exemplo, sai do PDT para (provavelmente) filiar-se ao novato Solidariedade. Apesar de já ter abandonado cinco partidos, não demonstra pudor em dizer: "Não gostaria de ter saído de nenhum. Espero que essa seja a última vez".
Ademir Camilo também mudou de legenda em cinco ocasiões. Ex-deputado do PSD, ajudou a montar o Solidariedade, que deve ser de oposição, mas (provavelmente) terminará no Pros, aliado do governo. "É lógico que mudar de partido é ruim, mas (...) no papel, é quase todo mundo igual", afirma.
Como eles, cerca de 50 parlamentares negociam --esta é a palavra-- trocar de legenda no verdadeiro feirão formado no Congresso na última semana, após a criação do Pros e do Solidariedade --as regras da fidelidade partidária não se aplicam a novas siglas.
A janela de transferências, para usar uma expressão do futebol, será fechada no sábado, a um ano das eleições. Até lá, a movimentação de muitos parlamentares confirmará que no Brasil, infelizmente, a diferença entre os partidos poucas vezes é maior que 0,1%.
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