http://www.pavablog.com/2013/10/13/der-spiegel-policia-militar-do-rio-de-janeiro-e-pior-do-que-gangues/
‘Der Spiegel’: Polícia Militar do Rio de
Janeiro é “pior do que gangues”
Publicado em Brasil por João Marcos.
Revista
alemã afirma ainda que governo Cabral é ‘mais violento do que a ditadura’
Publicado
no Jornal do Brasil
“Pior do
que gangues”. Esta é a forma com que a revista alemã Der Spiegel (Hamburgo) se
refere à Polícia Militar do Rio de Janeiro na sua edição desta semana. A
reportagem especial é assinada pelo correspondente do veículo no Brasil, Jens
Glüsing, com detalhes sobre a ocupação do Conjunto de Favelas do Lins, na zona
norte, no domingo passado (6), para implantação da 35ª Unidade de Polícia
Pacificadora (UPP) na cidade. O título da matéria ainda complementa: “polícia
do Rio é criticada nas favelas por medidas enérgicas”.
A revista
comenta o envolvimento de PMs da UPP da Rocinha na morte do pedreiro Amarildo
de Souza, que teve repercussão internacional, a violência militar durante a
ocupação do Complexo do Alemão, há dois anos, a truculência praticada pelos PMs
contra manifestantes nos atos pacíficos que estão acontecendo na cidade. A
publicação ainda destaca a declaração do historiador da UFRJ, Francisco Carlos
Teixeira da Silva, que afirma que o governo de Sérgio Cabral é “mais violento
do que a ditadura militar”.
Segundo o
Spiegel, a nova campanha de segurança do Estado visa contribuir com as
autoridades na reconquista do controle das favelas às vésperas da Copa do
Mundo. As UPPs visam reprimir a ação de traficantes dessas comunidades, “mas
muitas vezes acabam por substituí-los com a sua própria regra brutal”, destaca
o veículo.
A
reportagem de Jens relata a operação no Conjunto de Favelas do Lins, que
aconteceu de forma pacífica, como a secretaria de Estado do Rio havia
prometido. O repórter detalhou a operação que durou 50 minutos e o momento em
que os policiais hastearam a bandeira brasileira “como anúncio de tudo o que o
Estado recuperou”. Nas linhas seguintes, a matéria explica que o complexo já
havia sido dominado por grupos de traficantes perigosos, como também acontece
na maioria das mais de 300 favelas do Rio de Janeiro. A Spiegel destaca que as
UPPs “estão no centro da estratégia do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho”.
O texto relembra que a polícia criou, inicialmente, unidades permanentes nas
favelas, que só eram ocupadas durante operações especiais que terminavam em
fortes tiroteio e morte de inocentes.
A matéria
conta que a única operação que resultou em violência pesada foi a ocupação do
Complexo do Alemão, um dos maiores complexos de favelas no Rio de Janeiro,
terminando em vários dias de tiroteios. “Desde a introdução das UPPs, a taxa de
homicídios caiu drasticamente. (…) Mas quanto tempo vai manter a
paz? Entre os muitos moradores da favela, a força policial do Rio de
Janeiro tem uma reputação pior do que as quadrilhas de traficantes
criminosos. Eles são vistos como bandidos e assassinos – e muitas vezes
com razão, como admite o secretário de Segurança Beltrame”, destaca a
matéria.
A revista
relembra o caso do pedreiro Amarildo de Souza, supostamente torturado e morto
por policiais militares da UPP da Rocinha, na zona sul da cidade e das muitas
denúncias de moradores da comunidade que afirmam serem vítimas dos PMs. “Uma
investigação feita por uma unidade especial chegou à conclusão de que ele
[Amarildo de Souza] foi torturado com choques elétricos na presença do
comandante da UPP do distrito e, eventualmente, assassinado. Seu corpo
ainda está desaparecido. Ele provavelmente foi retirado da favela no
porta-malas de um carro da polícia”, relata a matéria, que destaca em um dos
trechos que ”o crime lança uma sombra sobre toda a estratégia de
pacificação do governo”.
O crime
na Rocinha é avaliado de forma mais abrangente pela revista. “O delito é quase
sem precedentes: tortura é rotina em muitas delegacias de
polícia. Polícia, bombeiros e ex-militares formaram milícias que levam os
traficantes para além de muitas favelas e que vão estabelecer seus próprios
reinados de terror”, analisa o repórter da Spiegel. Mais adiante, a Spiegel
ressalta que “os grupos de traficantes já tentaram várias vezes retomar
favelas pacificadas. Houve tiroteio, especialmente no Complexo do
Alemão. E bandidos que fugiram dessas favelas se refugiaram em outras
favelas na periferia da cidade, levando a um aumento da violência suburbana”.
O Raios X
da segurança no Rio de Janeiro feito pela Spiegel não faltou as atuais
manifestações que estão tomando as ruas do Rio de Janeiro e marcadas por fortes
confrontos entre manifestantes e Polícia Militar. “…a polícia está reprimindo
mais brutalmente os manifestantes. Praticamente todas as semanas há uma
batalha de rua no Rio de Janeiro entre manifestantes e policiais, que
responderam com bombas de gás lacrimogêneo e violência aparentemente excessiva,
mesmo contra transeuntes”, relata. Em seguida, a matéria destaca um comentário
de Francisco Carlos Teixeira da Silva, historiador da Universidade Federal
do Rio de Janeiro: “A polícia foi menos violenta sob a ditadura militar do que
no governador Cabral”.
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