"Sem reforma política, tudo continuará como
sempre foi, e a distinção ficará entre os que foram pegos e os que ainda
não foram. O mensalão não constitui fato isolado na vida política."
Essa foi a mensagem de Luís Roberto Barroso, novo ministro do STF, em
seu primeiro discurso na Casa.
Trata-se de algo com um fundo de verdade, mas que serve para ocultar o
mais importante e, assim, confundir. O sistema político é mesmo
convidativo à corrupção, pois concentra recursos e poder demais no
estado. Soma-se a isso a impunidade, e temos um quadro propício à
corrupção.
Mas o equívoco do ministro é tratar o mensalão como apenas mais um caso
de corrupção. Essa é a tese vendida pelo próprio PT desde quando o
ex-presidente Lula veio a público assumir os "erros" do partido, por ter
feito o que outros sempre fizeram.
Isso não é verdade. Assim como outra tese levantada pelo PT e endossada
pelo ministro: a de que há mais investigação hoje, não mais corrupção.
Esta claramente aumentou, e muito. Os jornais sequer dão conta de tantos
escândalos, e vários caem rapidamente no esquecimento dos leitores,
pois é necessária uma memória de elefante para guardar tudo. Aproveito
para perguntar: e a Rose, por onde anda?
Mas voltemos ao mensalão. Tratá-lo como um "simples" caso de corrupção é
ignorar sua essência, já apontada pelo próprio STF. Não dá para
confundi-lo com desvio de recursos públicos em obras superfaturadas, por
exemplo, ou com cartel acordado com políticos para burlar uma
licitação. São coisas bem diferentes.
O mensalão foi uma tentativa de solapar nossa democracia, de dar um
golpe em nossas instituições. Comparar isso com desvio de recursos é
misturar alhos com bugalhos. Em nível nacional, membros da cúpula
petista tentaram comprar deputados para controlar sozinhos o Congresso.
Isso é muito mais sério do que obra superfaturada. Isso, até onde
alcança a vista, foi, sim, um fato isolado.
Quem acompanhou a trajetória do PT saberá que vários líderes do partido
jamais tiveram muito apreço pela democracia. Eles sempre flertaram com o
regime socialista, inspirados na ditadura cubana, ou mais recentemente
no modelo bolivariano da Venezuela. A democracia, para muitos ali, é
vista como uma "farsa" para chegar ao poder.
Até hoje há essa ligação umbilical entre PT e regimes antidemocráticos.
Recentemente, estavam todos reunidos no abjeto Foro de São Paulo, e a
presidente Dilma chegou a mandar uma mensagem aos participantes. Quem se
aproxima tanto de Fidel e Raúl Castro não pode posar de amante da
democracia.
Outra evidência dessa afinidade ideológica com o que há de pior na
região é o Mercosul, que virou uma camisa de força bolivariana
prejudicando nosso comércio. Enquanto Chile, Colômbia e Peru costuram
acordos bilaterais na Aliança do Pacífico, o Brasil segue no atoleiro do
Mercosul, com países cada vez menos democráticos e mais fechados.
Esse pano de fundo torna evidente o absurdo da comparação entre mensalão
e casos frequentes de corrupção. O PT já tentou monopolizar o discurso
da ética. Ficou claro que era tudo um engodo. Hoje, o partido se
"defende" dos escândalos alegando não ser diferente dos demais. Ou seja,
o PT teria feito "apenas" o que os outros fazem.
Mas é mentira. Jogar todos no mesmo saco podre só interessa mesmo aos
petistas atualmente. Tenho inúmeras divergências ideológicas com os
tucanos, acho o PSDB muito intervencionista, condeno sua visão
social-democrata nos moldes europeus. Enfim, gostaria que o PSDB fosse
bem mais liberal. Dito isso, não posso aceitar a ideia de que PT e PSDB
são "farinha do mesmo saco". Não são.
O PSDB não participa de fóruns ao lado dos piores tiranos do mundo; não
morre de amores pelo ditador cubano; não deixaria os bolivarianos
destruírem o Mercosul; não elogia os narcoguerrilheiros das Farc; não
tem nos invasores do MST uma espécie de "braço armado"; não controla
máfias sindicais. Em suma, não carrega em seu DNA o mesmo ranço
autoritário dos petistas.
Corruptos, vários são. Infelizmente, talvez essa seja a regra na
política brasileira. Como eu já disse, o ambiente os atrai, pois há
fartura de poder e recursos no governo, e impunidade quando pegos com a
boca na botija. Isso tem que mudar. Temos de combater a corrupção
sistêmica com a redução do Estado e punições severas.
Mas o mensalão foi muito mais que isso. Foi um esquema parido por um
partido que considera a "democracia" venezuelana um exemplo a ser
seguido. Portanto, senhores ministros, chega de chicana no STF. É hora
de mandar essa quadrilha para trás das grades. |
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