[Retaliação pelo vazamentos dos políticos que voavam no AeroFAB?]
Folgando na sexta
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01 Ago 2013
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Opinião
Carlos Alberto Sardenberg
A
Marinha chegou a comunicar a seus funcionários que não precisariam mais
trabalhar às sextas-feiras. Culpa do superávit primário, explicava o
comando em nota distribuída internamente na última segunda. A Esquadra,
digamos assim, havia sido atingida pelo corte de gastos necessário para
atingir a meta de economia do setor público, o tal superávit primário.
Nos
Estados Unidos, os governos - federal, estaduais e municipais - também
fecham repartições e mandam funcionários para casa nesses momentos de
aperto. Faz sentido: gasta-se menos com luz, água, telefone,
ar-condicionado, cafezinho, bandejão, essas coisas. Só que lá nos EUA
funcionário em casa não recebe - e no Brasil é proibido cortar salário
de servidor público. Logo, a economia seria menor. E a sexta-feira seria
mesmo uma bela folga para os funcionários burocráticos e
administrativos da Marinha. Fim de semana de três dias, remunerados!
Mas,
para azar desses servidores, que já planejavam a folga, a coisa pegou
mal. A Marinha distribuiu o comunicado, em e-mail interno, na segunda.
Na terça, o documento caiu nas mãos da jornalista Denise Peyró, da CBN,
que colocou a matéria no ar. Poucas horas depois, a Marinha distribuía
nota à imprensa dizendo que chegara a cogitar de fechar às sextas, mas
que desistira da ideia e estudava outras maneiras de economizar.
Ficou
evidente a bronca não apenas da Marinha, mas também das outras forças,
Exército e Aeronáutica. Essa área, a Defesa, sofreu os maiores cortes, e
não é a primeira vez que isso acontece. Em outras tesouradas, outros
governos cortaram mais verbas das forças. Ninguém nunca diz claramente,
mas todo mundo sabe o pensamento que está por trás disso: o país não
está em guerra, sequer tem inimigos...
Não
apenas por isso, o fato é que a Defesa brasileira foi ficando para
trás. Equipamentos atrasados, quartéis reduzindo expediente para não
precisar dar almoço aos soldados, redução de efetivos e por aí foi. Pode
parecer estranho, mas faz parte desse processo de deterioração o uso
dos jatinhos da FAB por autoridades políticas.
Militares,
reservadamente, criticam o sistema. Que a FAB cuide do avião
presidencial, tudo bem, mas transformá-la em serviço de aluguel de
jatinhos para políticos? - tal é a queixa.
Mas,
sabem o que mais? A triste realidade é que oficiais da FAB têm nesse
sistema uma oportunidade de acumular horas de voo, sempre limitadas por
questões orçamentárias. Avião no chão, navio no porto e tanque no
quartel gastam bem menos, não é verdade?
Todo
esse episódio revela o atraso não apenas da Defesa, mas do Estado
brasileiro. E a absoluta falta de um projeto, sequer a disposição, de
reforma. Aqui, os próprios militares têm parcela da responsabilidade, no
seu setor.
Há
tempos especialistas nacionais e estrangeiros notam que nossas Forças
Armadas precisam ter menos gente, menos quartéis (inclusive no Rio),
menos repartições, menos soldados e oficiais. E mais equipamentos e
muito mais tecnologia. Resumindo: uma Força menor, bem armada, com uma
capacidade e movimentação adequada ao tamanho do país e, especialmente,
de nossas fronteiras. Mais uma mudança de orientação para que a Força
Armada, ao controlar de fato a fronteira e o mar territorial, seja parte
essencial no combate ao tráfico de drogas.
Mas
não se nota uma pressão da corporação por essas reformas. O pessoal
parece acomodado e fica ali tocando a vida. Há, no momento, um programa
de compra de armamentos, mas atrasado e de conclusão duvidosa. Há quanto
tempo se fala da compra dos tais caças para a Aeronáutica?
Assim
para o Estado, para o serviço público. O episódio da Marinha mostrou
como foi tudo na base da improvisação. A Fazenda e o Planejamento
ficaram semanas discutindo o corte orçamentário. Quando o anunciaram,
verifica-se uma coisa frouxa, sem combinação com o resto do governo, sem
projetos.
Se for mesmo para cortar, o que é duvidoso, vão ter que improvisar como a Marinha tentou.
Tem
muita gente reclamando do serviço público em geral. A reação dos
governos tem sido a pior possível. No caso dos médicos, por exemplo, o
governo Dilma já está mudando a proposta tão contestada. Parece coisa
tão improvisada como a ideia de fechar repartição na sexta-feira.
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