quarta-feira, 25 de maio de 2011

Pará, terra de ninguém?

Folha de S. Paulo, 25 de maio de 2011.

Líderes de assentamento são mortos a tiros no PA

José Claudio Ribeiro da Silva e a mulher haviam relatado ameaça de madeireiros

Polícia diz que não tem pistas dos autores do crime, mas que existem indícios de que mortes foram encomendadas







FELIPE LUCHETE
DE BELÉM

Um casal de líderes extrativistas que havia sido ameaçado foi morto na manhã de ontem em Nova Ipixuna (sudeste do PA) numa ação com características de crime de encomenda: ambos tiveram parte das orelhas cortada.
José Claudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo da Silva já haviam relatado ameaças de morte recebidas de madeireiros da região.
Seus nomes estão no levantamento de ameaçados feito pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), entidade que registrou o Pará como líder de mortes por conflito agrário no país no ano passado.
Segundo a polícia, eles foram atingidos por vários tiros quando passavam, de motocicleta, por uma ponte entre a comunidade rural onde moravam e o centro da cidade. Dois homens aguardavam por eles no local, de acordo com a perícia.
Segundo o delegado Marcos Augusto Cruz, o corte de parte das orelhas pode ter servido para os autores do crime apresentarem prova do "serviço" ao mandante.
Silva, 54, e a mulher, 53, viviam no Assentamento Agroextrativista Praialta Piranheira, criado em 1997.
Eram os principais líderes locais, segundo a CPT. Lá, cultivavam frutas e faziam produtos com recursos naturais.
Em um evento, José Claudio disse que vivia "com uma bala na cabeça" e que madeireiros queriam fazer com ele o mesmo que fizeram com Chico Mendes, morto no Acre, e com a irmã Dorothy Stang, no Pará.
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais aponta que 73% da área do município foi desmatada até 2010.
De 2006 a 2010, o Ibama aplicou R$ 4 milhões em multas por crimes ambientais.
A polícia diz que não tem pistas dos autores do crime.
A presidente Dilma Rousseff determinou que o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) mobilize a Polícia Federal para investigar o caso.

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