Guerra no campo | | |
Dados da Pastoral da Terra mostram que 381 pessoas foram assassinadas na última década. Casal morto no Pará ontem soma-se à assustadora estatística Ana Paula Siqueira Brasília Com o assassinato do casal Maria do Espírito Santo da Silva e José Claudio Ribeiro da Silva, líderes do Projeto Agroextrativista Praialta-Piranheira, ontem, em Nova Ipixuna (PA) chega a 381 o número de mortos em conflitos no campo nos últimos dez anos em todo o país, segundo dados da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Ao que tudo indica, eles foram mortos por problemas com madeireiros da região. O estado campeão é o Pará, que contabiliza 160 assassinatos a lideranças regionais, sem terra, índios, trabalhadores rurais, assentados e pequenos proprietários de terra. Apenas este ano, cinco pessoas perderam a vida. Para os ativistas, poucas são as esperanças de que os assassinatos tenham fim. Ativistas reclamam de descaso do poder público O advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT), José Batista Afonso, lembra que após o massacre de Eldorado dos Carajás, em que 19 trabalhadores rurais sem terra foram mortos numa ação violenta da Polícia Militar paraense em 1996, a expectativa era que o poder público “tomasse medidas mais enérgicas” contra os assassinatos no campo. Apesar disso, os crimes não param e, apenas em 2010, 34 pessoas foram mortas em todo o país. Só no Pará foram 18 assassinatos no período. – Isso mostra que os latifundiários, os madeireiros e o crime organizado continuam agindo sem qualquer problema com o Estado – critica o advogado. Para ele, enquanto o modelo de desenvolvimento adotado no país, “direcionado para a exploração de riquezas a qualquer custo”, a situação tende a se manter igual. E compara a morte do casal ao assassinato da freira norteamericana Doroty Stang, em 2005. – Não existe prioridade do poder público para proteger as florestas e as pessoas. Dessa maneira, infelizmente, vamos conviver com assassinatos todos os anos – prevê. Para a coordenadora do Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Cristina Silva, enquanto a questão fundiária da Amazônia não for de fato resolvida, o cenário de execuções e terror vivido pelos defensores do meio ambiente deve se intensificar. Ela conta que o clima é de muito medo entre os integrantes de organizações e movimentos sociais do Pará. – A gente fica esperando quem será o próximo – desabafa. – Isso tudo por conta da ganância, da falta de consciência ecológica e humana. Em nota, a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República classificou a execução do casal como uma “afronta aos direitos humanos” e exige providências das autoridades paraenses para solucionar o caso. Segundo dados da Ouvidoria Agrária Nacional, do Ministério do Desenvolvimento, entre 2001 e 2010, o Pará registrou 58 assassinatos motivos por conflitos no campo e outras 62 mortes estão sob investigação – número inferior ao encontrado pela CPT. “Isso deixa claro que esse assassinato não é caso isolado, mas com o objetivo de calar a voz de lutadores de uma justa e honrosa causa”, diz a nota. Emboscada O casal José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo seguia de moto para uma audiência em Marabá (PA) para tratar de problemas relacionados à terra. Eles foram alvejados por ocupantes de uma moto que os aguardava na estrada. O casal era reconhecido internacionalmente pelo trabalho realizado no Pará e estaria sofrendo ameaças há bastante tempo. Eles já teriam recorrido a diversos órgãos governamentais em busca de ajuda, mas não faziam parte de nenhum programa de proteção. |
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Guerra no campo
Jornal do Brasil 25 de maio de 2011.
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