Marcos Augusto Gonçalves
Tropa de Elite 3
Violência em São Paulo é parte de um problema nacional, que precisa ser enfrentado com coragem
A notícia não é que o Estado de São Paulo reduziu sua taxa de homicídios
ao patamar de 10 a 11 mortes por 100 mil habitantes, o mais baixo do
país, metade da média nacional. Isso já havia acontecido há cinco anos.
Numa trajetória notável de queda, em 2007 a taxa chegava a 11,7 e, em
2008, a 10,8 por grupo de 100 mil. Desde então, os índices paulistas -um
pouquinho mais, um pouquinho menos- se estabilizaram nessa faixa.
A notícia é que no mês passado o total de homicídios dobrou na cidade de São Paulo e subiu quase 40% no Estado. Note-se que são "ocorrências". Se alguém entrar num boteco e matar dez pessoas, é apenas uma ocorrência. Quando contamos a quantidade de vítimas, o aumento, o terceiro seguido na cidade, foi de 114%, um salto de 82 para 176 mortos na comparação com outubro do ano passado.
Esse surto, assim como os famigerados ataques de 2006, sugerem uma situação de equilíbrio precário na segurança. É como naquelas cenas de westerns em que a troca de olhares e palavras ríspidas entre os valentões do saloon de repente explode. Alguém saca a arma e a matança se consuma.
Ao que tudo indica, essa cena de saloon teria ocorrido, no dia 28 de maio, num estacionamento da zona leste, quando policiais da Rota e membros do PCC se enfrentaram. O episódio, aliás, seria a abertura do meu roteiro imaginário para um possível "Tropa de Elite 3 - Entradas e Bandeiras". O epílogo a partir do qual a história se desdobra e para o qual volta a convergir.
No lugar do Bope, a Rota. Um efetivo de 26 policiais, em seis veículos, desloca-se do quartel até o local onde um grupo ligado ao PCC reúne-se para planejar o resgate de um preso que seria transferido para a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no oeste do Estado. Os policiais descem das viaturas e se aproximam a pé. Tensão. De repente a gritaria e o tiroteio. Bala pra lá e pra cá. Saldo: seis bandidos mortos. Um deles teria sido torturado e executado, mas a testemunha cai em contradição no tribunal e a Justiça inocenta os acusados meses depois.
O que exatamente teria ocorrido ali?
Não se sabe. O que se sabe é que logo a seguir teve início a onda de assassinatos de policiais e a espiral que assusta a população paulista. Não havia na origem da escalada nada que se parecesse com "terrorismo" da mídia -a eterna vítima das guerrinhas político-ideológicas paroquiais.
É evidente que há um grave problema nacional na segurança pública, que vem sendo empurrado com a barriga. O sistema, de um modo geral, é ineficiente, brutal e contaminado pela corrupção. Mesmo na São Paulo maravilha, onde se investiu para obter ganhos incrementais importantes, a população, como mostrou o Datafolha, não confia na polícia e tolera execuções.
Além de planejar e investir, é preciso considerar uma mudança na Constituição para flexibilizar as regras atuais. Volto ao tema: por que a segurança tem de ser necessariamente da alçada dos Estados e exercida por meio das polícias civil e militar? É preciso reconhecer as diferenças num país que tem as dimensões da Europa. Em São Paulo, por exemplo, onde esse modelo parece encontrar seus limites, seria razoável pensar numa polícia municipal ou metropolitana, mais bem preparada e equipada para atuar na área urbana da capital.
Há décadas a segurança pública bate à porta da agenda nacional. É hora de atendê-la -com coragem e imaginação.
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