Folha de S. Paulo, 4 de novembro de 2012.
Clóvis Rossi
São Paulo na guerra global ao crime
Aumento da violência, um fenômeno disseminado, impõe a cooperação a que o tucanato resiste
Deu no jornal: "O governo anunciou um pacote de medidas destinadas a
controlar a criminalidade. Entre elas, figuram um reforço dos efetivos
da polícia e o lançamento de uma nova estratégia, baseada na
inteligência e em uma cooperação estreita entre forças da ordem e a
magistratura para lutar contra o tráfico de drogas".Estamos falando de São Paulo? Não. A notícia refere-se a Marselha, onde ocorreram 17 assassinatos este ano, mais seis no seu entorno, poucos para o padrão brasileiro, insuportáveis para os franceses.
Reproduzo a notícia apenas para sublinhar uma coisa que deveria ser óbvia: o aumento da violência, em geral associada ao narcotráfico, não é um fenômeno exclusivamente paulista ou brasileiros.
Está se tornando uma praga em incontáveis países. Por isso mesmo, demanda um nível de cooperação entre as diversas instituições do Estado que, até faz pouco, não era nem tão relevante nem tão urgente.
Essa obviedade torna incompreensível a relutância do governo de São Paulo, só agora vencida, em aceitar a ajuda oferecida pelo Ministério da Justiça.
Segundo o "Painel", lideranças tucanas explicam a relutância com base em uma tola teoria da conspiração: o governo federal estaria querendo desconstruir a política de segurança de São Paulo, para arrebatar o governo dos tucanos em 2014.
O que desconstrói qualquer política de segurança é o aumento da violência, não uma ação conjunta que eventualmente a reduza.
Custa a crer que se torne necessário escrever tão tremenda obviedade, mas a culpa é da indigência do debate público no Brasil, em grande medida transformado em um Fla-Flu de baixo nível entre petistas e tucanos.
Vale acrescentar que a eficaz cooperação União/Estado no Rio de Janeiro não deu um só voto ao PT, em processo de liquefação no Estado, mas encheu a burra do governador Sérgio Cabral e do prefeito Eduardo Paes (ambos do PMDB).
Se o tucanato ainda tem dúvidas, pergunte a Teotônio Vilela, governador do partido em Alagoas, se ele também não deve parte da reeleição em 2010, após um início desastroso, à cooperação Estado/União na área de segurança, que reduziu a criminalidade até em Arapiraca, epicentro de tremendo faroeste.
A proposta do Ministério da Justiça faz todo o sentido: criar uma força-tarefa que ataque a criminalidade por todos os ângulos.
Pela força, com as polícias Civil e Militar de São Paulo e a Federal, pela inteligência (dessas polícias mais a Agência Brasileira de Inteligência), pelo lado financeiro, por meio da Receita Federal, mais o Ministério Público e o Judiciário.
No limite, segundo o Ministério da Justiça, seria utilizado também o Exército.
Detalhe: em Marselha, a senadora socialista Samia Ghali está igualmente propondo usar o Exército para pôr fim ao banho de sangue.
Em vez de relutar, o governo paulista deveria é cobrar do federal que a força-tarefa saia já do papel, e não fique no velho truque político de criar um grupo de trabalho quando não se sabe como resolver um dado problema.
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