segunda-feira, 11 de março de 2013

Mapa da violência



Correio Brazilense, 11 de março de 2013.
Mapa da violência

Visão do Correio

Os números não surpreendem, mas assustam. Existe na sociedade a percepção de aumento da violência. Não se fala apenas de crimes que envolvem celebridades, como o assassinato macabro de Eliza Samúdio com participação do então goleiro Bruno, do Flamengo. Ou do empresário Marcos Matsunaga, dono da Yoki, morto e esquartejado pela mulher em bairro elegante de São Paulo.
Fala-se de homicídios que crescem com desenvoltura em todas as regiões do país. Não há dia em que os telejornais deixam de publicar notícias de chacinas, acertos de contas ou roubo de vidas por motivos banais. O Mapa da Violência 2013, divulgado na quarta-feira pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-Americanos (Cebela), mantém o país entre os mais violentos do mundo.
O Brasil ocupa o 8º lugar entre as 100 nações capazes de apresentar estatísticas confiáveis. Os analistas não hesitam em comparar os dados brasileiros com os de países em guerra. Entre 2004 e 2007, por exemplo, tiros roubaram, aqui, a vida de 147.353 pessoas. No mesmo período, 12 dos maiores conflitos armados globo afora contabilizaram 169.574 mortes.
A média nacional de homicídios é o dobro do considerado tolerável pela Organização das Nações Unidas — 10 mortes a cada 100 mil habitantes. Antes restrita aos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, a matança espalhou-se pelo território nacional. Alagoas, Espírito Santo, Pará, Bahia, Paraíba, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Distrito Federal e Ceará, estados que ocupam as 10 primeiras colocações no ranking de mortes por armas de fogo, provam que a barbárie não escolhe região, nível de riqueza ou desenvolvimento. É democrática.
Em 2010, ano da pesquisa, nada menos de 36.792 pessoas perderam a vida — 20,4 homicídios por 100 mil habitantes. Trata-se de guerra urbana. É inaceitável. Até quando os brasileiros, que pagam uma das cargas tributárias mais extorsivas do mundo (sem receber a contrapartida correspondente), terão de conviver com a inapetência governamental para combater efetivamente o crime? O aumento dos investimentos públicos em segurança, tantas vezes prometido, não se concretiza.
Acontece com a segurança mais ou menos o que acontece com a educação. Nas campanhas eleitorais, não faltam projetos que, implementados, seriam capazes de rivalizar com medidas adotadas na Suécia, Dinamarca ou Noruega. Contados os votos, porém, esquecem-se as palavras, adiam-se as providências, engavetam-se as peças de marketing.
O assunto volta às manchetes em duas oportunidades. A primeira, na ocorrência de tragédia. A segunda, nas próximas eleições. O resultado está no Mapa da Violência. Em bom português: enquanto perdurar o jogo de faz de conta, o cidadão continuará a pagar com a vida o descaso das autoridades.

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