O Globo, 13 de janeiro de 2013.
No Brasil, só 5% dos
homicídios são elucidados
- No Reino Unido, taxa é de 85% e nos EUA, de 65%; 85 mil inquéritos abertos em 2007 ainda estão inconclusos
Guilherme Voitch
Publicado:
12/01/13 - 19h00
Atualizado:
12/01/13 - 19h37
SÃO PAULO
— A meta 2 da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp) —
parceria do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), do Conselho
Nacional de Justiça (CNJ) e do Ministério da Justiça — previa concluir até abril
de 2012 todos os inquéritos abertos até dezembro de 2007 para investigar casos
de homicídio. Mas, do total de 136,8 mil inquéritos, apenas 10.168 viraram
denúncias e 39.794 foram arquivados. Outros 85 mil inquéritos ainda estão em
aberto.
Segundo
Taís Ferraz, conselheira do CNMP e coordenadora do Grupo de Persecução Penal da
Enasp, o trabalho para concluir essas investigações continua.
— A
polícia está fazendo diligências na maioria desses 85 mil inquéritos. Parte
deles ainda pode virar denúncia — diz.
Agora, o
CNMP também trabalha com inquéritos registrados até 2008. A meta é concluí-los
até abril deste ano, mas, até agora, 95% dos inquéritos continuam em aberto.
Entre os que avançaram, apenas 246 viraram denúncia.
Para o
jurista e ex-promotor de Justiça Luiz Flávio Gomes, o esforço do Ministério
Público para resolver os inquéritos inconclusos é louvável, mas os números
evidenciam o sentimento de impunidade no país.
—Temos
uma média de 5% de resolução de homicídios. No Reino Unido esse número é de
85%, nos Estados Unidos, de 65%. Nosso número é ridículo. Ainda reina uma
impunidade muito grande — diz ele.
Para Taís
Ferraz, o percentual baixo no Brasil não pode ser visto isoladamente:
—Na
maioria dos estados, conseguimos eliminar mais de 50% do passivo. E para dez
mil casos que seriam esquecidos, que cairiam na impunidade, conseguimos
formalizar uma denúncia.
O balanço
do CNMP mostra um bom desempenho de estados como Acre e Piauí, que conseguiram
cumprir 100% da meta. Minas Gerais e Goiás, por outro lado, aparecem com os
piores indicadores, e resolveram apenas 11,4% e 12% dos inquéritos,
respectivamente.
Para a
conselheira do CNMP, só o fato de a Enasp estar fazendo um diagnóstico dos
inquéritos já é motivo de comemoração:
— Antes,
não havia sequer como mensurar o tamanho do problema.
A
promotora também diz que o trabalho sobre os inquéritos trouxe à tona a
discussão sobre os problemas da investigação criminal no país:
— Nós nos
deparamos com um quadro muito complicado, de falta de equipamento e de pessoal.
Muitos estados têm aberto concursos para a polícia científica. E mesmo o
governo federal abriu os olhos para a importância da perícia e tem ajudado os
estados na aquisição de equipamentos. São passos fundamentais para a resolução
dos homicídios.
Estado do
Rio arquivou em massa os inquéritos
Quando a
Meta 2 foi fixada, o objetivo era identificar os inquéritos e processos
judiciais mais antigos e adotar medidas concretas para fazê-los andar, na
contramão da morosidade. Os resultados, porém, causaram polêmica. Em 2011,
reportagem do GLOBO mostrou que, para cumprir a meta estabelecida pelo Conselho
Nacional do Ministério Público (CNMP), a Procuradoria de Justiça do Rio de
Janeiro, em apenas quatro meses (abril a junho), arquivou 6.447 inquéritos de
homicídio.
Os
promotores optaram por um arquivamento em massa, em vez de investir mais nas
investigações, para concluir os inquéritos e chegar ao fim do ano com
prateleiras vazias. Na grande maioria dos casos, eles alegaram que faltavam
informações sobre a autoria dos crimes, geralmente cometidos em bairros pobres,
e envolvendo famílias sem condição financeira ou social para reclamar por
justiça.
Muitas
delas, por medo de retaliações, optavam pelo silêncio, agravando ainda mais a
má qualidade da investigação produzida pela polícia, com o acompanhamento do
MP.
Atropelamento
a pauladas
Para
justificar o arquivamento de um dos inquéritos no Estado do Rio, o promotor
alegou tratar-se de um atropelamento. Uma rápida examinada no conteúdo, porém,
revelou que a vítima, na verdade, fora morta a pauladas.
Mas o
problema não se limitou ao Rio. Nos primeiros quatro meses de Meta 2 em 2011,
os MPs do país já haviam arquivado 11.282 casos e oferecido denúncia em apenas
2.194.
O Estado
do Rio foi o segundo que mais arquivou: 96% dos casos examinados. Só foi
superado por Goiás (97%), que teve mais da metade de todos os inquéritos
arquivados no país.
Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/pais/no-brasil-so-5-dos-homicidios-sao-elucidados-7279090#ixzz2Hrgm9Y6N
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