Insegurança jurídica
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08 Jan 2013
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Merval Pereira
Temos
vivido nos últimos tempos na América Latina situações de insegurança
jurídica que colocam a democracia em perigo, mesmo onde ela é apenas uma
aparência, como na Venezuela. No Brasil, à medida que surgem grupos
políticos à frente de outros poderes colocando em dúvida a capacidade do
Supremo Tribunal Federal de ser a última instância na definição do que é
ou não constitucional, passaremos a fazer parte de um grupo de países
que seguem a Constituição de acordo com suas conveniências políticas.
O
fato de que qualquer dos candidatos à presidência da Câmara não pode
admitir que cabe ao Supremo a última palavra sobre a perda dos mandatos
dos parlamentares condenados no processo do mensalão é sinal de
fragilidade de nossas instituições, mesmo que o mais provável seja que
qualquer um deles, eleito, mudará de posição para evitar uma crise
institucional. Pelo menos, essa é a torcida.
Outra
situação curiosa é a do Fundo de Participação dos Estados (FPE), que
deveria ter sido alterado pelo Congresso até o último dia do ano
passado, de acordo com decisão do Supremo de três anos atrás. Nada foi
feito, e agora todos estão torcendo para que ninguém mexa no assunto a
fim de deixar tudo do jeito que está. No dia 10 de janeiro (coincidência
de datas para crises institucionais aqui e na Venezuela, como veremos
adiante), o Tesouro Nacional tem que fazer os repasses das verbas para
estados e municípios, mas corre o risco de estar cometendo uma
ilegalidade.
O
advogado-geral da União se encontrou ontem com o presidente do STF,
Joaquim Barbosa, para sondá-lo a respeito do que fazer. Mas tudo de
maneira informal, pois, se o Supremo for instado a opinar oficialmente,
cria-se problema gravíssimo de falta de dinheiro na maioria dos
beneficiários desses fundos. Como o STF é um poder que age só se
provocado, não tem que sustar o pagamento. Mas todo mundo sabe que ele
não deveria acontecer. Todos fingirão não estar vendo a burla, na
esperança de que a crise institucional desapareça por encanto.
Da
mesma maneira, nossa política externa dá sinais de que toma decisões
com base em interesses políticos regionais, como agora com a situação da
Venezuela. Um curioso caso de autogolpe está em desenvolvimento naquele
país sem que nenhum passo tenha sido dado para evitar que o mais
recente membro do Mercosul fira a cláusula democrática. Impossibilitado
de comparecer à Câmara para tomar posse do novo mandato, a 10 de
janeiro, o presidente Hugo Chávez, internado em Cuba e aparentemente em
estado terminal, pode continuar presidindo o país sem mesmo saber o que
está acontecendo, graças a uma manobra que seus seguidores estão armando
na Venezuela. E por que os chavistas temem enfrentar o futuro sem a
presença física de seu líder?
Não
parece provável que a oposição tenha condições de vencer as próximas
eleições, mas, ao que tudo indica, as forças chavistas não estão
suficientemente unidas para enfrentar as urnas. A oposição venezuelana é
parecida com a brasileira, é organizada eleitoralmente quando se trata
de eleição para presidente, mas não tem capacidade de atuação política
congressual.
Na
Venezuela, a oposição teve boa votação na última disputa presidencial
com Henrique Caprilles, para em seguida perder em 20 dos 23 estados. A
ausência física de Chavez em uma eventual eleição não deve favorecer a
oposição, mas os chavistas tentam adiar ao máximo esse desfecho fazendo
interpretações mirabolantes de uma Constituição aprovada por eles
mesmos. Ao contrário do Brasil, onde a maioria dos juízes foi indicada
pelos governos petistas e demonstrou independência, na Venezuela a
Suprema Corte é dominada pelo chavismo e segue à risca suas orientações.
Tudo
parece indicar que, diante da realidade de uma ausência permanente do
líder, as diversas alas do bolivarianismo se debatam internamente,
prenunciando o início do fim do movimento que dominou o país nos últimos
anos. Enquanto não forem obrigadas a encarar a realidade, querem fingir
que o "Comandante" continua no poder. E seu sucessor escolhido, o
vice-presidente Nicolas Maduro, ficará no poder "de facto" para disputar
a eleição "no cargo", visto pelo eleitorado como o novo Comandante. E a
Constituição que se dane.
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terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Insegurança jurídica
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