Confiança nas instituições
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02 Jan 2013
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Os
brasileiros confiam muito mais nas Forças Armadas, cuja atuação nada
tem a ver com seu cotidiano, do que na polícia ou no Judiciário, que têm
importância bem maior no seu dia a dia. O último Índice de Confiança na
Justiça, o ICJBrasil, elaborado pela FGV, mostra que as instituições
judiciárias e de segurança padecem de significativa descrença por parte
dos cidadãos, que delas esperam eficiência e celeridade. Como diz a
própria FGV, esse quadro afeta diretamente o próprio desenvolvimento do
País, pois, se a população não enxerga o Judiciário como instância
legítima e confiável para a resolução de conflitos, entra em xeque o
Estado de Direito.
A
pesquisa, realizada em sete Estados e no Distrito Federal, ouviu 3.300
pessoas no segundo e no terceiro trimestres de 2012. É um levantamento
qualitativo que visa a medir o sentimento dos brasileiros em relação a
suas instituições, ou seja, se os cidadãos comuns acreditam que elas
sejam capazes de cumprir suas funções de modo satisfatório, se elas são
importantes em sua vida e se seus benefícios justificam seus custos.
Nessa pesquisa, as Forças Armadas, que no mesmo período de 2010 já
apareciam como a instituição mais confiável, com 66% de aprovação,
mantiveram a liderança, mas sua aprovação saltou para 75%. Em seguida,
aparece a Igreja Católica, com 56%. Ela havia conquistado essa posição
já em 2010, em meio à polêmica causada pela questão do aborto nas
eleições presidenciais daquele ano. Até então, a Igreja aparecia
emsétimo lugar na lista, com 34% de aprovação. Na sequência são citados o
Ministério Público (53%), as grandes empresas (46%), a imprensa escrita
(46%) e governo federal (41%). Só então aparecem a polícia e o
Judiciário, ambos com 39% de menções positivas, seguidos pelas emissoras
de TV (35%). Na lanterna permanecem o Congresso (19%) e os partidos
políticos, com apenas 7% – índice que já foi de 21%.
A
desconfiança em relação à polícia, mais ou menos generalizada, é
particularmente notável à medida que caem a renda e a escolaridade, isto
é, na faixa da população mais exposta à violência. Dos entrevistados
com renda inferior a quatro salários mínimos, 63% disseram não confiar
na polícia; entre os negros, pardos e indígenas, o índice alcança 65%; e
entre os cidadãos de baixa escolaridade, chega a 63%. Já entre os
brancos e amarelos, a desconfiança é de 57%, índice semelhante ao dos
que ganham mais de 12 salários mínimos (60%) e ao dos que têm maior
escolaridade (58%).
Em
relação ao Judiciário, a situação não é melhor. A FGV salienta que a
crise de credibilidade do Judiciário se acentuou a partir da década de
80 e o quadro segue alarmante, mesmo com a reforma de 2004 e a criação
do Conselho Nacional de Justiça, em 2005. Aparentemente, a população
brasileira ainda não se convenceu de que o esforço para o saneamento do
Judiciário, com a transparência requerida sobre suas atividades nos
últimos tempos, é para valer. Um indício claro dessa percepção é que,
para 90% dos entrevistados, a Justiça é considerada lenta demais, e para
82% é cara demais. Além disso, 64% declararam considerar o Judiciário
pouco honesto, e 61% disseram que essa instituição não é independente.
Um dado positivo da pesquisa é que os mais jovens parecem mais propensos
a acreditar na Justiça e se dizem mais dispostos a recorrer ao
Judiciário para resolver seus conflitos do que os de mais idade.
Os
resultados do ICJBrasil revelam, enfim, uma situação paradoxal.
Enquanto a maioria dos brasileiros parece satisfeita e até entusiasmada
com a situação econômica e com as perspectivas para o futuro, ocorre
acentuada desconfiança nas instituições que se destinam a garantir que a
justiça seja feita, que haja paz social, que as leis sejam iguais para
todos, que os contratos sejam cumpridos e que não haja impunidade.
Graças à longa história de desigualdade no Brasil, o direito ainda é
concebido como um instrumento dos ricos, apesar de todas as mudanças
positivas pelas quais o País passou nos últimos anos. Cabe ao Judiciário
e à polícia demonstrar que esse sentimento já não se justifica.
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quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
Confiança nas instituições
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