O Estado de S. Paulo,
20 de julho de 2012.
Procriação
Dora
Kramer
Tomando
emprestada uma frase escrita por Marcelo Tas outro dia no Twitter, constatemos
a evidência: o problema não é o número de partidos existentes no Brasil, mas o
fato de que nenhum deles é de verdade.
Não se
prestam à representação de correntes de pensamento nem à defesa de causas ou à
disseminação de ideais presentes na sociedade e, por isso, não se pode dizer
que sejam fracos. Simplesmente inexistem e, no entanto, proliferam-se.
Há um mês
o Tribunal Superior Eleitoral concedeu registro à 30.ª agremiação partidária
brasileira, o Partido Ecológico Nacional (PEN), cujo presidente é um
ex-deputado estadual de São Paulo eleito com ínfimos votos pelo Prona.
Ele se
apresenta sem uma única ideia na cabeça, mas com um plano muito objetivo nas
mãos: filiar algo em torno de 30 deputados estaduais, a fim de ampliar seus
domínios já fincados no Acre, na Paraíba - onde o PEN já filiou os presidentes
das Assembleias Legislativas - e no Distrito Federal.
O
referido dirigente, Adilson Barroso, rejeita "radicalismos". Não
explica que tipo de concepção enquadraria no conceito e diz que definirá
"depois" se o partido é governista ou oposicionista. Por via das
dúvidas, trata logo de elogiar a presidente Dilma Rousseff e o governador
Geraldo Alckmin.
Por
enquanto, encerra a fase de caça a políticos com mandato um tanto decepcionado
por ter conseguido a adesão de apenas um (o tucano Fernando Francischini) dos
12 deputados federais "comprometidos" com ele.
Por
compromisso entenda-se a chance de trocar de partido sem o risco da perda do
mandato. Mas, lamenta o presidente, infelizmente ele não é "prefeito de
uma grande cidade" e não conseguiu arregimentar correligionários da
proporção de um Gilberto Kassab e seu PSD de cerca de 50 deputados.
Persistente,
Barroso irá atrás de Marina Silva na esperança de que a ex-ministra do Meio
Ambiente sirva de adereço verde à denominação ecológica da nova legenda. Um
"sonhático".
Nessa
altura o leitor pode estar se perguntando por qual razão perde-se tempo aqui
com o PEN.
Não é
perda de tempo. É ganho de informação sobre o que se passa no quadro partidário
do País, cuja desqualificação recebeu gentil contribuição da Justiça quando da
concessão ao PSD de tempo de televisão e acesso ao fundo partidário,
contrariando a letra da lei.
Tanto a
legislação eleitoral quanto a que regula o fundo dizem que os benefícios são
devidos a partidos conforme o tamanho das bancadas conquistadas na última
eleição.
O PSD não
atendia a esse pressuposto, pois não existia em 2010. Ainda assim, ganhou por
alegada imposição da "realidade".
Realidade esta que acabará se impondo como incentivo
à procriação quantitativa de partidos sem a necessária correspondência
qualitativa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário