Folha de S. Paulo, 23 de julho de 2012.
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Editorial
Mapa da violência
Levantamento sugere que morte violenta de jovens está associada à
urbanização precária e à ausência de políticas públicas específicas
De 1981 a 2010, 176.044 crianças e adolescentes foram assassinados no
Brasil. Neste período, o chamado país do futuro registrou, em média, 16
pessoas com até 19 anos de idade mortas a cada dia.
A média diária ajuda a dimensionar o tamanho da tragédia, mas oculta um
dado ainda mais alarmante. O número de homicídios nessa faixa etária é
proporcionalmente maior atualmente do que foi no passado.
Em 1980, a taxa de assassinatos de crianças e adolescentes era de 3,1
por 100 mil. Essa quantia cresceu constantemente ao longo do tempo e, em
2010, chegou a 13,8. O aumento de quase 350% em três décadas coloca o
Brasil num desolador quarto lugar entre 99 países.
Os dados constam do "Mapa da Violência 2012 - Crianças e Adolescentes no
Brasil", pesquisa que evidencia a penúria das políticas de segurança
para essa faixa etária.
Nas três décadas consideradas pelo estudo, as mortes naturais nesse
grupo populacional caíram de forma acentuada: em 2010, a taxa
representava menos de 25% da observada em 1980.
Com as curvas de mortes naturais e homicídios avançando em direções
opostas, a participação dos assassinatos no total de óbitos de crianças e
adolescentes saltou de 0,7% para 11,5%.
Especialistas tendem a afirmar que o crescimento de mortes violentas
resulta de uma série de fatores que se manifestam de forma desigual nas
regiões do país.
É verdade que as estatísticas evoluem de modo irregular entre os
Estados, mas se repetem alguns padrões. Por exemplo, entre as seis
capitais com as maiores taxas, cinco são do Nordeste. E São Paulo e Rio
de Janeiro, que uma década atrás estavam entre os Estados mais
violentos, melhoraram.
Conjugadas, as constatações sugerem que a urbanização crescente e
desordenada sob impulso de surtos econômicos tende a provocar
desequilíbrios que se traduzem na segregação espacial de comunidades
inteiras. A melhoria de indicadores econômicos, portanto, não basta para
diminuir o número de homicídios.
Sem políticas públicas adequadas, muitos jovens acabam buscando em
gangues ou no crime uma forma perversa de inserção social. Com armas de
fogo à mão, assassinatos nessa faixa etária são um resultado quase
incontornável.
Interromper essa equação lúgubre requer investimentos em ações dirigidas
aos jovens. Estudos dos EUA sugerem que ações preventivas, como
supervisão escolar frequente, geram economia de até 90% do que se
gastaria sem elas.
A falta de investimentos dessa natureza indica que, como em tantos
outros casos, também neste o Brasil está despreparado para o próprio
crescimento.
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