Venezuela não é o Paraguai, diz Patriota
Para ministro, queda de Lugo foi ruptura de democracia, sem direito de defesa
O Globo - 11.07.2012
BRASÍLIA - Sob duro ataque de senadores de
oposição e de alguns da base do governo, o ministro das Relações
Exteriores, Antônio Patriota, defendeu na manhã desta quarta-feira a
posição do governo brasileiro sobre a suspensão temporária
do Paraguai do Mercosul e também a entrada da Venezuela no grupo, que
será efetivada no próximo 31 de julho, no Rio. O chanceler reiterou que o
ex-presidente paraguaio Fernando Lugo não teve direito a ampla defesa e
que a decisão dos congressistas de afastá-lo
significou uma ruptura da democracia.
- Houve uma ruptura da ordem democrática. O
Paraguai vivia um momento de crescimento econômico, de combate à
corrupção e de melhoria de vida da população. O procedimento não
assegurou o amplo direito de defesa (de Lugo). E o que
houve foi uma reação dos países da região e uma mobilização pela
gravidade do problema - disse Patriota, que complementou:
- Foi um sinal inequívoco de que não há espaço para aventura antidemocrática.
As declarações de Patriota foram feitas em
audiência pública na Comissão de Relações Exteriores do Senado,
presidida pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), que foi afastado da
Presidência da República em 1992 após processo de impeachment,
como Lugo. Patriota também teve que responder a críticas de que
Uruguai, Brasil e Argentina estão decidindo pela entrada da Venezuela no
Mercosul aproveitando que o Paraguai, por estar suspenso, não poderá se
manifestar sobre essa medida. O Congresso paraguaio
foi o único que até agora não votou pela inclusão ou não da Venezuela
no grupo. O senador Roberto Requião (PMDB-PR) chegou a comentar uma
suposta denúncia de que parlamentares paraguaios teriam cobrado US$ 12
milhões do governo venezuelano para aprovar tal
medida.
- A presença da Venezuela é discutida há
muito tempo, desde meados desta década. Em Montevidéu (Uruguai), em
2011, foi discutida essa demora excessiva - disse Patriota, que negou
relação entre a suspensão do Paraguai e a decisão
pela aprovação da inclusão da Venezuela no Mercosul.
Patriota disse que o compromisso do governo
brasileiro com a democracia é "inegociável" e que países da América
Latina conquistaram a democracia a duras penas. O chanceler defendeu a
Venezuela.
- Nenhuma democracia é perfeita.
Trabalhamos para aperfeiçoá-la. Democracias são aprimoráveis. Nunca foi
necessário retirar embaixador da Venezuela, como 11 países da América do
Sul fizeram com o Paraguai. Tem governos mais à direita,
mais à esquerda, ao centro, mas são regimes que valorizam a democracia,
a inclusão social e a distribuição de renda. Jamais ocorreu com a
Venezuela o que ocorreu com o Paraguai. Observadores internacionais
acompanharam as eleições na Venezuela e a consideraram
livre, transparente e democrática - disse Patriota.
O senador Francisco Dornelles (PP-RJ) foi
duro nas críticas a Patriota e afirmou que o governo brasileiro rasgou
sua Constituição a apoiar sanções ao Paraguai. Ele defendeu a decisão
dos paraguaios em afastar Lugo e disse que o
chanceler brasileiro pode entrar para a História como o ministro que
acabou com o Mercosul.
- O Brasil tem direito de discordar, mas
não dá forma como agiu. O Brasil exerceu seu poder de polícia. Foi dos
mais tristes episódios da diplomacia brasileira. Saiu a diplomacia de
Estado e entrou a de governo. Não houve ruptura
constitucional no Paraguai. E votei a favor da entrada da Venezuela no
Mercosul, mas não dessa forma, sem o Paraguai presente. Foi com gol de
mão. Inconcebível - disse Dornelles.
Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) disse que
Patriota fazia pouco da inteligência dos senadores com os argumentos de
sua defesa do Paraguai.
- O que foi praticado contra o Paraguai
(pelo Brasil e países do continente que decidiram pela suspensão daquele
país) foi um golpe de grêmio estudantil de quinta categoria. Nós, na
minha época de faculdade, não faríamos esse tipo
de manobra. E ainda traz a Venezuela. Foi uma pataquada - disse Aloysio
Nunes.
O líder do PSDB, Álvaro Dias (PR), também criticou.
- Precisamos respeitar a autodeterminação
dos povos. Agora, mais rápido que a decisão do Paraguai em afastar seu
presidente foi a do ingresso da Venezuela no Mercosul - disse Dias.
Alguns senadores defenderam a decisão do
governo brasileiro, como Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque
(PDT-DF) e Roberto Requião (PMDB-PR).
- Fiquei extremamente orgulhoso da posição
brasileira. Agimos muito bem, com a suspensão do Paraguai, mas sem
sanções do povo paraguaio. O Paraguai voltará ao Mercosul, quando
estiver restaurada sua democracia - disse Requião.
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