Ação antiespionagem gera conflito no governo
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16 Dez 2013
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Por Fábio Brandt e Rafael Bitencourt | De Brasília
Um
decreto publicado pelo governo brasileiro em resposta às ações de
espionagem dos Estados Unidos no Brasil traz à tona desavenças entre a
Presidência da República e setores da inteligência. Funcionários do
Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão da Presidência que
funciona dentro do Palácio do Planalto e coordena ações de proteção à
presidente Dilma Rousseff, reclamam por terem sido excluídos da
elaboração da medida, apesar do conteúdo vinculado à segurança nacional.
O resultado, acusam, é um texto com falhas técnicas e inútil para o
combate à espionagem.
As
críticas aparecem num contexto de desavença entre Dilma e o chefe do
GSI, o general José Elito Carvalho Siqueira, do Exército. Exemplo do
descrédito que o Gabinete de Segurança Institucional tem com Dilma é o
órgão conviver, desde o início do atual governo, com uma eventual saída
do Planalto. Circula no entorno da presidente a ideia de desvincular o
GSI da Presidência e colocá-lo fora do Palácio. Depois, é incerto o que
acontecerá. Uma das propostas apoiadas pela Agência Brasileira de
Inteligência (Abin), órgão subordinado ao GSI, é desmilitarizar a
inteligência -a agência estaria descontente com a forma como os
militares conduzem o setor.
O
decreto que expôs essa intriga tem o número 8.135. Foi publicado no dia
5 de novembro no "Diário Oficial da União". É assinado por Dilma e
pelos ministros Paulo Bernardo (Comunicações), Miriam Belchior
(Planejamento) e Celso Amorim (Defesa). A medida obriga a administração
federal a repassar a gestão de seus dados e e-mails para outros órgãos e
empresas públicas especializados em serviços de informática. Para
cumprir a nova regra, será necessário até mesmo romper contratos já
existentes com a iniciativa privada.
Parte
da inteligência manifesta descontentamento com o ímpeto de Dilma de
editar medidas relacionadas ao escândalo de espionagem para faturar em
popularidade. Pesquisas mostram que essa fórmula deu certo. Dilma
reverteu parte da queda de aprovação que sofreu durante o período das
manifestações de rua.
O
GSI reclama que a pressa de Dilma em responder à crise está combinada
com a vontade do ministro Paulo Bernardo de exercer influência sobre a
guarda de dados do governo. Enquanto isso, dizem, fica em segundo plano o
da inteligência contra a espionagem.
O
desenrolar do atrito com os EUA mostrou uma participação tímida da
pasta da Defesa, de Celso Amorim. O ministro da Justiça, José Eduardo
Cardozo, só teve suas atribuições mais bem definidas após ser declarado
como interlocutor oficial do Executivo com o Congresso para o projeto do
Marco Civil da Internet. Até então, Bernardo ocupava informalmente esse
espaço. Deputados ouvidos pelo Valor
atribuem a ele a autoria do trecho do marco civil que obriga empresas a
manterem dados de internautas armazenados em solo brasileiro, outra
medida anunciada como reação à espionagem.
O GSI põe em dúvida a eficácia do decreto. Fontes consultadas pelo Valor
afirmam que a guarda de dados por órgãos públicos não significa maior
proteção às informações. Os militares avaliam que pode haver
comprometimento dos dados, caso as comunicações fiquem sob a
responsabilidade de empresas de economia mista, como a Telebrás, ou
órgãos públicos que usem mão de obra terceirizada ou consultores
externos, como o Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro).
O
que se diz no GSI é que o governo favorece o surgimento de um "novo
Snowden", em referência a Edward Snowden, prestador de serviços que
vazou dados secretos da NSA, sigla em inglês da Agência de Segurança
Nacional dos EUA.
O Valor
procurou a Presidência da República e os ministérios signatários do
decreto para saber quais órgãos públicos devem se adequar às novas
regras. O Ministério do Planejamento, incumbido de responder em nome de
todos, disse que sim. "Em princípio todos os órgãos da administração
pública federal direta, autárquica e fundacional terão que aplicar as
definições do decreto", respondeu a pasta por meio de sua assessoria.
Isso incluiria, por exemplo, Forças Armadas, Polícia Federal, Abin e
Receita Federal
Segundo
o Planejamento, alguns órgãos públicos poderão escapar da medida, mas
não disse quais. "Deverão ser consideradas as peculiaridades das
comunicações dos órgãos e entidades da Administração Pública Federal",
disse o ministério.
Em
março de 2014, quando o prazo de 120 dias para adaptação ao decreto
terminará, ficará mais claro, por exemplo, quais órgãos públicos
precisarão cancelar contratos com empresas privadas ou extinguir
serviços próprios de armazenamento de dados.
O Valor
perguntou ao governo quantos contratos deverão ser rompidos e quais
empresas serão afetadas, mas a resposta oficial não apresentou esses
dados. No GSI, a avaliação é que produtos da Microsoft, como Windows e o
Office, e da Google precisarão ser desinstalados de todas as máquinas
da administração federal.
Sobre
quais órgão estariam aptos a oferecer os serviços, o Planejamento
incluiu numa lista "apenas exemplificativa" o Serpro, o Dataprev e a
Telebrás. São, segundo o ministério, órgãos que "já possuem estrutura e
usam os seus próprios serviços".
O
coordenador-geral de gestão da segurança da informação do Serpro,
Ulysses Machado, defende a confiabilidade de seus serviços. "O Serpro
tem em sua vocação institucional o oferecimento de soluções de ponta
para proteção de dados na comunicação, no trato e no armazenamento de
dados de seus clientes. Temos como oferecê-las no estado da arte.
Contudo, não significa a venda de uma 'invulnerabilidade absoluta',
atributo que inexiste para qualquer dos participantes do cenário
mundial", disse.
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segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Dilma e o GSI
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