sábado, 7 de dezembro de 2013

Homenagem constrange general

 Folha de S. Paulo, 7 de dezembro de 2013.

Homenagem a Jango constrange general

Comandante militar do Sul, Carlos Goellner, diz que Exército não deve 'desculpas' e que não houve 'erro histórico'
Senador Simon afirma que golpe de 1964 foi um erro e cita anulação da sessão do Congresso que aceitou a deposição
FELIPE BÄCHTOLD DE PORTO ALEGRE
 
Com manifestações populares e intensa mobilização política, os restos mortais do presidente João Goulart (1919-1976) foram sepultados de novo ontem no município de São Borja (RS), no dia em que a morte completou 37 anos.
O corpo havia sido exumado três semanas atrás e levado a Brasília para uma perícia e coleta de amostras.
A série de homenagens de ontem foi marcada por uma declaração do comandante militar do Sul, general Carlos Bolivar Goellner, que falou, antes da chegada ao município do corpo do presidente deposto, que o Exército não devia "desculpas" e que não houve um "erro histórico".
Jango foi deposto em 1964. Morreu no exílio na Argentina e foi enterrado em São Borja sem direito às honras de chefes de Estado: "A história não comete erro. A história é a história. Estamos cumprindo um preceito regulamentar, são honras previstas no regulamento", disse o general.
A afirmação provocou reações de políticos que foram à cidade acompanhar o enterro, como os senadores Pedro Simon (PMDB-RS) e Randolfe Rodrigues (PSOL-AP).
Simon disse que é preciso reconhecer que o golpe de 1964 foi um erro e citou a recente anulação simbólica da sessão no Congresso que tirou Goulart da Presidência.
A ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos), que diz ver a exumação como um "resgate histórico", preferiu não comentar o assunto.
O objetivo da exumação é verificar a causa da morte de Jango. Na época foi divulgado que o presidente havia tido um infarto, mas familiares e o governo suspeitam que ele tenha sido envenenado.
Ainda não há um prazo para a divulgação da análise. Amostras coletadas no DF foram encaminhadas para laboratórios fora do Brasil.
Na chegada do caixão a São Borja, militares prestaram honras fúnebres. A prefeitura decretou feriado. Milhares de pessoas participaram das homenagens nas ruas e na igreja, onde foi feita missa em sua memória.
Na igreja, Simon disse em discurso que no primeiro enterro havia "ameaças" se surgissem manifestações de apoio a Jango: "O carro veio a 120 km/h de Uruguaiana a São Borja. Mas o povo estava por todas as ruas e o carro foi obrigado a parar". João Vicente Goulart, filho de Jango, chamou o momento de "segunda despedida" e afirmou que "quem oprimia" hoje está "calado".

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