Controle precário na fronteira facilita fugas
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20 Nov 2013
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Na divisa entre Brasil e Paraguai, não é preciso sequer mostrar identidade para ir ao outro ladoFlávio Freire
De um lado da rua, na brasileira Ponta Porã, casas simples, um tabelião
de notas e um comércio de baixa gastronomia. Bem rapidinho, menos de um
minuto, é possível atravessar o canteiro central da Avenida
Internacional para chegar à paraguaia Pedro Juan Caballero. Não precisa
de passaporte.
Sequer carteira de
identidade, Se o ex—gerente de Marketing do Banco do Brasil Henrique
Pizzolato passou por ali, certamente não teve qual— quer dificuldade
para chegar ao exterior, em meio a sacoleiros que transitam de um lado
para o outro freneticamente em busca de ofertas de roupas a eletrônicos,
de cosmético a pneus de caminhão.
Canos e motos transitam de um país para o outro sem qualquer cerimônia,
Salvo alguns guardas de trânsito exercendo o poder no apito, em alto e
bom som, o cuidado para evitar a entrada de um visitante indesejado está
longe dos rigorosos sistemas de imigração aeroportuários. O
mal-conservado canteiro central é facilmente vencido pelos que arrastam
enormes sacolas e sacos de lixo ainda maiores, sempre com quilos e
quilos de bugigangas.
— Aqui é
fronteira seca, praticamente a mesma cidade. Tanto que muita gente anda
de um lado para o outro sem saber em que país está. Qualquer pessoa de
má-fé pode fugir de seu país sem dificuldade alguma — diz a delegada
regional da Policia Federal de Ponta Porã, Paloma Alves. À frente de
uma equipe que tem atuado rigorosamente no combate ao tráfico de drogas,
a delegada afirma que há, nos dois países, um serviço de imigração para
controlar a entrada de pessoas de um país para o outro.
Mas ressalva: — o serviço existe, mas as pessoas não procuram. Pedro
Juan Caballero fica a cerca de 600 quilômetros de Assunção, capital do
Paraguai. Uma fonte da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso do
Sul disse que tem sido comum procurados pela polícia fugirem do Brasil
pelas fronteiras secas, não só do Mato Grosso do Sul, mas também do Mato
Grosso.
A cidade tem sido também
um dos principais destinos de traficantes e de chefes de quadrilhas. — o
que o Pizzolato teria feito (fugido por Pedro Juan) é o que todos
(criminosos) fazem. Há anos essa é a principal porta de saída para quem
pretende fugir. Não é segredo para ninguém que os governos (Brasil e
Paraguai) não fazem nada para evitar isso — disse o advogado Mário Josué
Zeferino, advogado criminalista que atua na região e que tem, entre
outros clientes, alguns foragidos que tentam resolver a situação
jurídica no país.
Em 2010, os então
presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo acertaram medidas
conjuntas para o combate ao narcotráfico na região, com instalação de
bases da Polícia Federal e da Força Nacional de Segurança nas regiões de
fronteira de 11 estados. Desde então, a polícia continua lutando contra
o narcotráfico e a entrada de mercadorias contrabandeadas. O esforço,
no entanto, não é o mesmo quando se trata de tentar evitar que
condenados brasileiros usem o país vizinho como "passaporte da
liberdade".
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quarta-feira, 20 de novembro de 2013
Terra de ninguém
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