O que trama o PT?
O Estado de S. Paulo - 21/11/2013 -editorial |
O
manifesto petista divulgado na terça-feira, que classifica de "ilegal" a
decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro
Joaquim Barbosa, de mandar recolher à prisão 12 dos condenados no
processo do mensalão, afirma que "uma parcela significativa da
sociedade" teme "pelo futuro do Estado Democrático de Direito no
Brasil". Têm razão os signatários do documento.
O
Estado de Direito está real e gravemente ameaçado no Brasil, mas pelos
sectários, pelos oportunistas fisiológicos e pelos inocentes úteis do PT
que, por razões diversas, se empenham numa campanha nacional de
desmoralização do Poder Judiciário, ferindo fundo a estabilidade
institucional e colocando em risco, em benefício da hegemonia política
do partido, o futuro da democracia no País.
O
tal manifesto não é um documento oficial do PT. Mero detalhe. As
posições "oficiais" do partido, ditadas pelo pragmatismo eleitoral, são
traduzidas pela linguagem melíflua das notas oficiais, hábeis em
camuflar o verdadeiro pensamento da elite petista. Mas esse pensamento
está explicitado no manifesto de terça-feira, que tenta em vão
dissimular seu caráter eminentemente politico-partidário com a adesão de
"companheiros" intelectuais e juristas. Mas assinam a nota o presidente
Rui Falcão e todos os demais integrantes do Diretório Nacional do
partido. Está ali, portanto, o que pensa o PT.
Da
mesma forma como ataca sistematicamente a imprensa, ao investir contra o
Poder Judiciário, lançando mão do recurso de demonizar a figura do
ministro Joaquim Barbosa, o PT deixa claro o modelo de "democracia" que
almeja: aquele em que ninguém ousa contrariar suas convicções e seus
interesses nos meios de comunicação, na aplicação da Justiça, na
atividade econômico-financeira. Em todas as atividades, enfim, em que
entendem que o Estado deve dar sempre a primeira e a última palavra,
para promover e proteger os interesses "do povo".
Para
visualizar esse modelo dos sonhos dos petistas radicais sem ir muito
longe, basta olhar para a Venezuela e demais regimes "bolivarianos" da
América Latina, sem falar no clássico exemplo da ilha dos Castros. Esses
países, em que vigora o "socialismo do século 21", são comandados pelos
verdadeiros amigos do peito e de fé de Lula, Dilma e companheirada.
Mas
nem todo mundo no PT está preocupado com dogmatismo ideológico. Ao
longo de 10 anos, boa parte da militância petista aprendeu a desfrutar
das benesses do poder e hoje reage ferozmente a qualquer ameaça de ter
que largar o osso. São os oportunistas que tomaram conta do aparelho
estatal em todos os níveis e a ele dedicam todo seu despreparo e
incompetência gerencial.
E
existem ainda os inocentes úteis, em geral mal informados e
despolitizados, que engrossam as fileiras de uma militância que comprou a
ideia-força lulopetista de que o mundo está dividido entre o Bem e o
Mal e quem está "do outro lado" é um "inimigo" a ser ferozmente
dizimado. As redes sociais na internet são o ambiente em que melhor
prospera esse maniqueísmo de esgoto.
O
que pretende esse amplo e variado arco de dirigentes e militantes
petistas que, a pretexto de se solidarizarem com os condenados do
mensalão, se mostram cada vez mais ousados em suas investidas contra o
Poder Judiciário? O País tem estabilidade institucional suficiente para
impedir que, num golpe de mão ou num passe de mágica, a condenação dos
mensaleiros seja anulada. Mas os radicais sabem que para alcançar seus
objetivos precisam criar e explorar vulnerabilidades na estrutura
institucional de nossa democracia. Os oportunistas sabem que precisam
ficar bem com os donos do poder a que aderiram. E os inocentes úteis não
sabem nada. Agem por impulso, movidos por apelos emocionais. Acreditam
até no argumento falacioso de que é preciso ser tolerante com a
corrupção e os corruptos porque sem eles é impossível governar.
A
quem não entra nessa lista resta comemorar, enquanto pode, uma singela
obviedade: feliz é o país em que a Justiça pode contrariar os interesses
dos poderosos de turno.
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