Os bandidos agradecem
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27 Dez 2012
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Editorial
A
cada Campanha Nacional do Desarmamento, como a que está sendo
veiculada, a sociedade fica mais vulnerável, e os bandidos, mais à
vontade. Os argumentos das autoridades permanecem mais ou menos os
mesmos desde 2004, quando essas campanhas começaram: a defesa dos
cidadãos cabe exclusivamente à polícia e disparos acidentais de armas de
fogo provocam tragédias familiares. Não se discute que é preciso
treinamento para manejar armas, como, de resto, é preciso treinamento
para dirigir um carro, cujo mau uso o toma tão letal quanto um revólver.
Já o argumento de que não cabe ao cidadão ter instrumentos adequados
para se defender da ameaça de bandidos armados é ominoso.
O
mote da campanha atual é "Proteja sua família. Desarme-se". Trata-se de
uma série de depoimentos de pais cujos filhos foram vítimas de disparos
acidentais de armas de fogo. A intenção, segundo o Ministério da
Justiça, é mostrar que não vale a pena correr os riscos que ter uma arma
em casa implicam. "A arma é um excelente instrumento de ataque e um
péssimo instrumento de defesa, principalmente para as pessoas que não
têm habilidade em usá-la", disse a secretária nacional de Segurança
Pública, Regina Miki. Segundo ela, "a sociedade tem o direito de exigir
do Estado que qualifique e equipe muito bem os policiais para
defendê-la", pois "essa é competência do policial, e não do cidadão".
Trata-se
de um raciocínio primário. É óbvio que cabe ao Estado proteger seus
cidadãos, pois é o Estado que detém o monopólio do uso legítimo da
força. No entanto, como sabe qualquer cidadão letrado, esse monopólio
tem sido diuturna-mente desafiado pelo crime organizado e pela
bandidagem em geral, que mesmo de dentro das penitenciárias conseguem
fazer valer a lei da barbárie. Há cidadãos que desejam ter meios para
enfrentar os criminosos caso os agentes do Estado não estejam por perto
para fazê-lo, situação que é rotineira nas grandes cidades. A lei
faculta a esses indivíduos o direito de proteger a si e a sua família da
melhor maneira possível é a chamada legítima defesa. Trata-se de uma
questão pessoal, sobre a qual o Estado não pode jamais interferir, pois a
lei não determina que os cidadãos devam ficar inertes ante a violência
que eventualmente sofram.
Mas
o discurso das campanhas de desarmamento transformou o ato de se
defender em uma violência equivalente à cometida pelos bandidos - se não
pior, porque os criminosos, de acordo com o sociologuês acadêmico que
pauta esse debate, agem porque são vítimas do "sistema", enquanto os
indivíduos que se defendem usando armas de fogo são, estes sim,
elementos violentos. Somente neste ano, três inocentes que reagiram a
assaltantes armados foram processados por crime de homicídio doloso
triplamente qualificado. Em um dos casos, uma senhora de 86 anos cuja
casa estava sendo assaltada, em Caxias do Sul (RS), pegou um velho
revólver calibre 32 e conseguiu matar o ladrão a tiros. Como a arma não
tinha registro, ela foi indiciada e se tornou ré, apesar de ter somente
tentado proteger sua vida e seu patrimônio. Trata-se de um episódio
exemplar dessa "equalização moral" entre bandidos e vítimas.
Ademais,
de que valem campanhas de desarmamento se os bandidos têm enorme
facilidade para obter seu arsenal, até mesmosob as barbas da Justiça?
Têm sido freqüentes os assaltos a fóruns, onde ficam guardadas as armas e
a munição apreendidas e que serão usadas como prova nos processos. Sem
segurança adequada, esses locais são de "fácil acesso" para os
criminosos. O caso mais recente ocorreu em Peruíbe, no litoral sul de
São Paulo, em 2 de dezembro. Havia apenas um vigia no local, facilmente
rendido.
O
fato é que as campanhas de desarmamento não são a panaceia contra a
violência, e a interpretação que se faz da legislação vigente trata o
cidadão possuidor de armas como um delinqüente. Isso só é possível num
país em que as autoridades, para escamotear sua incompetência na área de
segurança pública, atribuem a responsabilidade por parte da violência à
própria vítima. Os bandidos agradecem.
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quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
Os bandidos agradecem
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