O Estado de S. Paulo,
25 de dezembro de 2012.
Gasto do Exército Brasileiro no
Haiti chega a R$ 1,9 bi desde abril de 2004
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Missão de paz. Desse total, ONU
reembolsou ao Tesouro Nacional R$ 556,5 milhões; ao enviar tropas ao país
caribenho, governo Lula justificou participação como forma de garantir ao
Brasil um assento permanente no Conselho de Segurança, o que não ocorreu até
agora
Tânia Monteiro
Leonencio Nossa/Brasília
Sem
previsão para deixar o Haiti, o Exército gastou, de abril de 2004 a novembro
deste ano, R$ 1,892 bilhão na manutenção da tropa no país arrasado por uma
guerra civil e, mais recentemente, por um terremoto.
Desse
total, a Organização das Nações Unidas (ONU) reembolsou R$ 556,5 milhões
para o Tesouro Nacional. Os números são do Ministério da Defesa. Na prática,
um gasto de R$ 1,3 bilhão líquido em recursos do Brasil. Em 2004, o governo
Lula justificou que a participação na missão de paz da ONU era uma forma de
garantir um assento permanente do Brasil no Conselho de Segurança, o que não
ocorreu.
Atualmente,
o Brasil mantém 1.910 homens das Forças Armadas na Missão das Nações Unidas
para a Estabilização do Haiti (Minustah). A maioria do contingente
brasileiro é do Exército. Ainda há militares da Aeronáutica (30 homens da
Força Aérea Brasileira) e da Marinha (200 fuzileiros navais). A meta para
2013 é reduzir o efetivo para 1.200 militares, mesmo número do início da
operação, em 2004 - o acréscimo ocorreu após o terremoto de 2010.
A redução
da tropa de forma "responsável", nas palavras do ministro da
Defesa, Celso Amorim, é respaldada por uma resolução da ONU, de outubro. No
começo deste mês, o presidente do Haiti, Michel Martelly, escreveu uma carta
de duas páginas implorando à presidente Dilma Rousseff para negociar a
manutenção do efetivo, argumentando que ainda não conseguiu formar uma
polícia nacional para deter o avanço de gangues.
Em oito
anos e meio, cerca de 25 mil militares brasileiros passaram pelo Haiti. O
governo avalia que a missão, embora não tenha garantido um assento no
Conse- lho de Segurança, derrubou uma das principais críticas ao País no
âmbito da ONU. Delegações estrangeiras sempre questionaram a contundência
dos discur- sos dos diplomatas do Itamaraty na área de direitos humanos
e a fraca presença real brasileira nos campos de conflito.
O gasto
total do Brasil no Haiti é quase nove vezes maior que o valor pedido em 2012
pelo governo de São Paulo ao governo federal para modernizar as áreas de
informação e inteligência da polícia - neste ano, o governo paulista
reclamou que pediu R$ 148,8 milhões ao Ministério da Justiça e só recebeu R$
4 milhões. No contra-ataque, o governo federal alegou que não recebeu projeto
consistente para o envio dos recursos. Se aplicada na área social, a despesa
no Haiti daria para pagar o plano de expansão da rede de creches e escolas
infantis nos próximos três anos e que, até agora, não saiu do papel. O
governo anunciou um investimento de R$ 1,3 bilhão até 2014.
Não estão
incluídos no total de despesas os recursos gastos com soldos dos militares. O
gasto inclui recursos de diárias, alimentação, comunicação, rede de
internet, processamento de dados, explosivos e munições, vestuário, transporte,
combustível e produtos médicos e farmacêuticos.
Promessas.
O projeto brasileiro no Haiti começou com festa. Enquanto soldados chegavam
a Porto Príncipe para montar base, a seleção liderada por Ronaldo Fenômeno
desfilava com a Copa Fifa em blindados da ONU pela capital haitiana, diante
de uma multidão eufórica, e aplicaria depois uma goleada de 6 a 0 no time da
casa, para a festa dos ricos do país que tiveram acesso ao estádio.
Enquanto
tentavam se adaptar a um país sem infraestrutura, com mais de 70% da
população sem emprego, generais brasileiros pressionavam diplomatas e
autoridades para exigir recursos de organismos internacionais para combater
a miséria no Haiti. Em janeiro de 2010, o país caribenho foi atingido por um
terremoto, que deixou 316 mil mortos, segundo o governo haitiano. A tropa
brasileira também foi atingida, com a morte de 18 militares.
Dados do
Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi) indicam que o governo
gastou, em 2011 e 2012, R$ 235 mil em bolsas para os filhos dos militares
mortos no terremoto. A tragédia de 2010 tornou ainda mais dramática a vida
que já era praticamente insuportável no país. Sem árvores - cortadas para
lenha de fogão -, as ruas de Porto Príncipe ainda estão tomadas de abrigos
improvisados de sobreviventes do terremoto.
Os
discursos de dirigentes da ONU pedindo recursos "impactantes" para
o Haiti não mobilizaram a comunidade internacional, antes ou depois do
começo da crise financeira de 2008. 0 governo brasileiro deve endurecer, no
próximo ano, o discurso contra a própria ONU.
O
Ministério da Defesa e o Itamaraty reclamam que o Brasil se comprometeu a
gastar US$ 40 milhões, por exemplo, na construção de uma hidrelétrica com
capacidade de 32 megawatts no Rio Artibonite, ao sul de Porto Príncipe, e,
ate agora, os demais países não repassaram um centavo para o projeto orçado
em US$ 190 milhões e que beneficiará 1 milhão de pessoas.
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