sexta-feira, 24 de maio de 2013

Fazendo a democracia brasileira funcionar...

Folha de S. Paulo, 24 de maio de 2013.

Ruy Castro
Ministérios transbordando

RIO DE JANEIRO - Quando Juscelino Kubitschek assumiu a Presidência, em 1956, e começou a construir Brasília, Lucio Costa perguntou-lhe de quantos prédios precisaria para os ministérios. Juscelino puxou pela memória e declinou-os um a um, enquanto contava nos dedos: Trabalho, Fazenda, Saúde, Justiça, Educação, Agricultura, Viação e Obras Públicas, Relações Exteriores, Guerra, Marinha e Aeronáutica. Onze.
Foram esses que ele entregou a seu sucessor Jânio Quadros, já em Brasília, em 1961. Jânio pode ter mexido aqui ou ali, desdobrando um ministério ou criando outro, mas a conta não aumentou muito. Em 1962, João Goulart inventou o Ministério Extraordinário do Planejamento. Em 1964, Castello Branco, primeiro presidente da ditadura, manteve o Planejamento e desovou mais três: Interior, Indústria e Comércio e Minas e Energia. Dali criar ministérios tornou-se o esporte favorito dos presidentes.
Hoje temos 24 ministérios oficiais, incluindo o --este, sim, extraordinário-- da Pesca e Aquicultura, e 15 secretarias e órgãos com status de ministério. Total, 39. Todos ligados diretamente à presidente e com direito à clássica foto ao lado dela no dia da posse. Aliás, esta foi a última vez que vários daqueles ministros falaram com Dilma. A próxima será no dia em que forem substituídos para aplacar mais um "aliado".
Como se adivinhasse, Juscelino disse a Lucio que plantasse 17 prédios na esplanada --talvez, em 1965, ele próprio precisasse de mais ministérios. Pois não só não houve JK em 1965, como os prédios extras foram insuficientes para a farra ministerial que se seguiria.
Com 39 ministérios transbordando de 17 prédios, há ministros tendo de despachar no elevador de serviço ou em algum obscuro quartinho dos fundos. O que, pela natureza de certos despachos, também obscuros, lhes deve vir a calhar.

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